Romancista premiado conversa com leitores na Feira de Livros da EdUFSC

21/03/2012 09:54
“E foi assim que, sem mais escorregar nada não e com bem menos de
dificuldade, ele apegou-se um só instantinho àquele e último galho,
antes de se despenhar de lá de cima e chegar no ao-chão a bordo de um
baque seco cheio de ecos. Que tapa dado em cara de filho e queda de
suicida nunca param de ecoar.”

(trecho de Ao que minha vida veio, de Alckmar Luiz dos Santos)

Tapa dado em cara de filho e queda de suicida nunca se desesquece, sobretudo quando
assistidos por um futuro escritor. Ficam mesmo “atroando ainda depois de terem silenciado
as carpideiras todas, e desaparecido tudo quanto é soluço fingido e não”, como diz a abertura
do romance de Alckmar Luiz dos Santos. Vencedor do Concurso Romance Salim Miguel,
promovido pela Editora UFSC no ano passado, Alckmar faz a cena de um adolescente de 17
anos caindo de um prédio de 12 andares que guardou na memória por muitos anos derivar e
entrelaçar-se à aparição do cometa de Halley em 1954. O romance dá partida nos anos 30 e se
desdobra em quatro décadas de alucinante narrativa, desfilando uma rede de paisagens e de
personagens históricos e fictícios na saga do tropeiro Juca Capucho.

Depois do lançamento em Florianópolis e na capital de São Paulo, obra e autor foram
recebidos em festa em Silveiras, na serra paulista, terra natal do escritor e cenário dessa
narrativa que entremeia lembranças de juventude no universo campeiro e história do Brasil
em tempos de guerra e de esquadria da fumaça. O lançamento na Feira de Livros da UFSC
ocorrerá no dia 21 de março, quarta-feira, às 17 horas, na Praça da Cidadania. Alckmar estará
na Tenda dos Autores para uma conversa com o público, dentro da Programação da Tarde de
Encontro com Leitores. Radicado há 20 anos em Santa Catarina, onde é professor de Letras e
Literatura da UFSC e coordena há 17 anos o Núcleo de Pesquisa em Informática Linguística e
Literatura, maior banco digital de literatura do Brasil, o escritor carrega na sua criação o traço
dos lugares geográficos e literários onde viveu.

Na reinvenção de uma sintaxe tropeira, na largueza e riqueza de vocabulário que lança o
dicionário regionalista em uma linguagem e uma reflexão universalizante, salta aos olhos a
influência da prosa de Guimarães Rosa, cuja obra Alckmar estudou no mestrado. A gramática
ao mesmo tempo erudita e popular, o modo selvagem de enrilhar as frases e puxar os
diálogos, trazendo para o registro escrito o ritmo e a musicalidade da fala tropeira, torna a

leitura desafiante, mas sem freios. A estranheza de vocabulário não param a leitura, trôpega
como um terreno montanhoso, mas veloz como um cavalo xucro. Não é do tipo de romance
que começa devagarzinho, para ir fisgando o leitor aos poucos. Ao que minha vida veio começa
com o cavalo encilhado e dispara até o fim, antes que o leitor pense em saltar, montado na
garupa de um narrador que busca descobrir na história de sua região, suas próprias origens: o
nome do pai e da mãe que lhe são escondidos.

Na busca de repostas para sua história pessoal, há o esforço de reconstrução de fatos da
história do Brasil. “Por exemplo, há uma passagem do cometa Halley, contada pelo meu
avô, que ficou muito espantado ao ver voar aquela bolona com rabo no céu.” Esse evento
individual se emaranha a casos importantes para a região, como a revolução de 1932, quanto
Silveiras foi bombardeada por aviões cariocas das forças federais, chamados de vermelhinhos
pelos habitantes. “É historia que ouço ainda hoje de minha mãe. Ninguém conhecia avião, mas
todos sabiam que dele se jogavam bombas”. A história adentra a Segunda Guerra Mundial,
quando o personagem desiludido, vai, como voluntário da FEB, lutar na Itália e se entremeia
com memórias da infância do autor sobre pessoas que perderam amigos na guerra ou de
jovens que regressaram loucos. O romance passa pelo suicídio de Getúlio, em 54, e segue
sempre cruzando a história miúda com a história grande, uma forma, segundo o responsável
pela essa obra de alquimia, de dizer que uma é tão importante quanto a outra.

Alckmar Santos é professor de Literatura Brasileira na Universidade Federal de Santa
Catarina (UFSC), onde coordena o Núcleo de Pesquisas em Informática, Literatura
e Linguística (NUPILL). Foi pesquisador convidado na Université Paris 3 - Sorbonne
Nouvelle (2000-2001) e na Universidad Complutense de Madrid (2009-2010). É
também poeta, romancista e ensaísta. Autor dos livros Leituras de nós: ciberespaço
e literatura, Dos desconcertos da vida filosoficamente considerada (ensaio e
poemas, respectivamente Prêmio Transmídia - Instituto Itaú Cultural), Rios
imprestáveis (poemas, Prêmio Redescoberta da Literatura Brasileira da revista Cult).

Romance - Ao que minha vida veio...
Autor: Alckmar Santos
Editora UFSC
Páginas: 202
Preço: R$ 15,00

Data: dia 21 de março de 2012.
Hora: 17 horas

Local: Tenda dos Autores Feira de Livros da UFSC, Praça da Cidadania

Contatos do autor:

E-mail: alckmar@cce.ufsc.br

Raquel Wandelli
Jonralista – SeCArte – UFSC
Fones? 37218729 e 37218910 e 99110524
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