A VELHICE NO PALCO: Artes Cênicas estreiam As filhas de King Kong
Produção do Curso de Artes Cênicas da UFSC realiza de sábado à terça, no Centro de Desportos, peça que faz uma reflexão sobre a decrepitude e o cuidado com a velhice
Produção do Curso de Artes Cênicas da UFSC realiza de sábado à terça, no Centro de Desportos, peça que faz uma reflexão sobre a decrepitude e o cuidado com a velhice
Manoel Rangel participou do painel de abertura do Fórum Audiovisual Mercosul, dentro da programação do FAM
A partir do próximo dia 2 de setembro entra em vigor no Brasil a Lei 2485/2011, que determina cotas de exibição de produção nacional nas TVs pagas. “A nova exigência terá como conseqüência a ampliação da produção de conteúdo, uma oportunidade que deve ser aproveitada por todos, principalmente sob a perspectiva regional”, afirmou Manoel Rangel, diretor-presidente da Agência Nacional de Cinema (Ancine). Ele foi um dos convidados do primeiro painel do Fórum Audiovisual Mercosul (FAM), nesta quarta-feira (20), que debateu a legislação e o Fundo Setorial do Audiovisual (FSA).
“Vivemos uma época de fortes investimentos no audiovisual do Brasil”
O investimento recorde do Fundo Setorial do Audiovisual, que chegará a R$ 605 milhões em 2012 e o lançamento do segundo acordo de coprodução Brasil-Argentina, no valor de US$ 800 mil para quatro produções binacionais de ficção, documentário e animação, foram anunciados pelo diretor-presidente da Agência Nacional do Cinema – Ancine, Manoel Rangel, em dois painéis do Fórum Audiovisual Mercosul no FAM 2012 nesta quarta-feira, 20. Na entrevista, Rangel detalha esses novos financiamentos.

O 6º Festival Internacional de Teatro de Animação de Florianópolis- FitaFloripa 2012 – acontece de 23 a 30 de junho, mas as inscrições para as quatro grandes oficinas que ocorrem durante o festival já estão abertas. Duas delas, gratuitas, se localizam no campus da UFSC, em Florianópolis, e duas na Udesc, uma paga e outra gratuita. A primeira oficina, chamada “Animar o inanimado, animar o silêncio”, com a professora do curso de Artes Cênicas da UFSC Sassá Moretti, ocorrerá na segunda-feira, (18/6), às 14 horas, na sala 401 do Centro de Artes da UFSC, antes mesmo da abertura oficial do FitaFloripa.
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Descartes, Foucault, Paul Ricoeur, Blanchot, Rousseau, Bataille, Deleuze, Sartre, Albert Camus, Luc Nancy, Derrida. O que há em comum entre esses pensadores de linhas epistemológicas tão distintas? Além de serem todos de origem francesa, eles ajudam a configurar o pensamento contemporâneo em nível internacional. Teóricos franceses são o foco do Ciclo Café Philo, que a partir de exposição seguida de debate estuda a contribuição desses e de outros autores para a formação do pensamento ocidental. Gratuitas e abertas ao público em geral,as sessões ocorrem quinzenalmente nas quartas-feiras.
Depois de três anos funcionando como um projeto de extensão coordenado pelo professor Pedro de Souza, da Pós-Graduação em Literatura da UFSC, em parceria com a Aliança Francesa, o Café Philo concluiu suas atividades deste semestre promovendo concorridos debates com um público crescente e participativo. Os protagonistas dos encontros deste semestre foram os professores Kleber Prado Filho, com uma conferência sobre o Corpo Disciplinar em Michel Foucault e as novas formas de controle do corpo; Norberto Dallabrida, sobre a tese de Pierre Bourdieu a respeito do racismo intelectual dos sistemas de ensino; Aldo Litaiff, sobre a lição de Pragmatismo na última aula de Émile Durkheim e Marcos José Müller-Granzotto, que apresentou um diálogo entre Merleau-Ponty e Lacan em torno das noções de olhar e pulsão de morte. Com a conferência “Claude-Lévi Strauss e o totemismo”, o professor e poeta Sérgio Medeiros comandou o último encontro de junho, aproveitando para lançar seu livro de poesias “Tótens”.
Ao modo dos antigos cafés parisienses, a ideia do organizador é socializar os estudos de pesquisadores locais e eventualmente de fora sobre teóricos franceses que exercem grande influência no mundo intelectual, valendo-se da combinação sempre profícua entre café e filosofia. Os conferencistas convidados apresentam um recorte, uma intertextualidade ou uma leitura parcial da obra de um ou mais autores e na sequência abrem para o debate. “Valorizamos a informalidade na discussão como a marca do projeto”, explica o linguista Pedro de Souza, que desde o final do ano passado conta também com a parceria do professor Rogério Klaumann, do Departamento de História, e da Secretaria de Cultura da UFSC.
Como se trata de projeto de extensão, os encontros se realizam fora da universidade, em locais do Centro de Florianópolis, como a Aliança Francesa, a Biblioteca Pública do Estado e o Museu Vitor Meirelles. A partir de agosto os cafés passarão a ocorrer no auditório da Fundação Cultural Badesc, no Centro da cidade. “É uma iniciativa capaz de promover a formação intelectual do público que não tem necessariamente um vínculo com o mundo acadêmico e merece ser impulsionada”, enaltece o novo secretário de Cultura e Arte, Paulo Ricardo Berton.
Por Raquel Wandelli
Fotos: http://ftp.identidade.ufsc.br/Expo_Janelas_JoiCletison_2012.zip
O resto da cultura tradicional e do olhar doméstico que sobrevive à modernidade ainda se debruça sobre as janelas das metrópoles, foi o que ensinou o poeta e jornalista João do Rio. Durante dois anos, o fotógrafo Joi Cletison espiou pelas janelas da Ilha de Santa Catarina, do Arquipélago do Açores e de Portugal continental as semelhanças na arquitetura, na vida e nos costumes culturais das gentes. O resultado dessa espiação poética e antropológica será apresentado ao público na exposição fotográfica “Janelas”, que a Secretaria de Cultura e Arte da UFSC (SeCArte) abre no dia 20 de abril, no Espaço Cultural do Hall da Reitoria da UFSC.
Até o dia 10 de maio, essa “poesia das janelas” estará aberta à visitação de segunda a sexta feira, das 9 às 20 horas. Cada quadro traz uma mensagem diferente: a leveza, a paixão, a imponência, a sobriedade, a ternura, a simplicidade, a angústia e muitos outros significados que o espectador poderá encontrar nas aberturas que marcam a zona limítrofe entre o público e o privado. Diretor do Núcleo Açoriano da SeCArte, Joi Cletison pretende oferecer, através das janelas, um paralelo arquitetônico e artístico entre esses povos de cultura açoriana.
As 20 fotografias no tamanho de 1,10m X 1,60m ampliadas em cores sob tecido, permitem que as imagens das janelas possam ser vistas do lado interno e externo, com suas eiras e beiras, rococós, contornos, entalhes, grades, cortinas, sacadas e floreiras. Combinações de cores inusitadas, formatos característicos de diferentes épocas e de diferentes status sociais convidam ao devaneio e ao percurso histórico. “A visão dos dois ângulos dá a possibilidade de o espectador observar a janela e sentir-se dentro do espaço onde ela está inserida”, explica o fotógrafo e historiador.
SERVIÇO:
Exposição JANELAS
Fotógrafo: Joi Cletison
Período: 20 de abril a 10 de maio de 2012
Local: Espaço Cultural do Hall da Reitoria da UFSC
Promoção
Secarte/UFSC
Apoio Cultural
Agecom
Governo do Estado
Informações: 37218302/ joi@nea.ufsc.br
Fotos: http://ftp.identidade.ufsc.br/Expo_Janelas_JoiCletison_2012.zip
Divulgação: Raquel Wandelli (jornalista, SeCarte/UFSC)
Contatos: (48) 99110524 – 37219459
raquelwandelli@reitoria.ufsc.br
Agricultora, agente comunitária e professora aposentada, Leonilda Antunes Pereira, 59 anos, não casou nem teve filhos. Mas na pequena propriedade que mantém com o irmão em Rio Mansinho, no interior de Fraiburgo, parece ter adotado como parte da família tudo que voa, tudo que zurra, tudo que é verde, tudo que é vida. O amor pelo silêncio do lago de peixes, pela algazarra dos pássaros, pela lida com o velho jumento marchador do nordeste que o avô materno lhe confiou antes de morrer e por toda a bicharada que desfila em suas poesias é tão grande quanto o amor que tem pelas causas sociais e pelos seres humanos. Gralha Azul, nas asas da esperança, que a Editora UFSC lança no dia 7 de março, com a presença da autora, na Feira de Livros de volta às aulas, na Praça da Cidadania da UFSC, a partir das 14 horas, é um livro onde essa mulher do campo registra com densa singeleza, seu encantamento pelo convívio com a natureza e pelas possibilidades do trabalho social voluntário.
As duas vertentes dessa poesia narrativa que lembra um cordel do planalto catarinense estão bem sintetizadas pelo símbolo da gralha azul, nome do programa social e ambiental que ela homenageia no livro. Ao mesmo tempo em que pinta o mundo com seu azul exuberante, o pássaro faz sua tarefa social e ecológica, semeando o fruto do pinhão, ajudando a salvar a araucária da extinção e preservando a fonte de renda das famílias pobres do oeste serrano ”. Como o pássaro semeador, Leonilda é agente comunitária de saúde pelo município de Fraiburgo e membro do Conselho Municipal Antidrogas (Comad) e do Projeto Microbacias.
O lançamento do primeiro livro de Leonilda marca as comemorações do Dia Internacional da Mulher e o reconhecimento do Conselho Editorial da EdUFSC a um tipo de expressão escrita valorizada pelos Estudos Culturais como “Literatura dos Excluídos”, que vai além da obra e do padrão estético aprovado pelas academias. “Nela, o estético está comprometido com o campo político e existencial da autora, que envolve sua prática social pela preservação da terra e promoção do homem do campo”, assinala o editor, Sérgio Medeiros.
Desde menina, Lula, como é conhecida por toda gente, afeiçoou-se ao hábito da leitura e da escrita, inspirada no avô Antonio Antunes Abrão, que embora sem nenhuma escolaridade, era um grande amante da poesia. Ele costumava reunir ela, irmãos e primos em volta da lareira para contar histórias em forma de versos. “Eu o ou via e admirava… Com o tempo, a escrita passou a ser uma necessidade. Vejo a natureza, veja as coisas acontecerem… Quando surge a vontade de criar eu me levanto de madrugada, seja a hora que for, pra colocar no papel uma inspiração”.
Nascida em Lebon Régis em 1952, Lula conta que dava aulas como professora de escolas seriadas na cidade de Fraiburgo, mas decidida a mudar de vida, migrou para uma área ainda mais rural, onde se tornou agricultora. Foi nesse meio que abraçou trabalhos sociais de apoio e conscientização à famílias carentes sobre condições de saúde, meio ambiente, prevenção de dependência a drogas e alcoolismo. Em 1991, participou junto com outras mulheres da primeira reunião do Gralha Azul, programa de orientação à saúde e à cidadania de famílias sem-terras e foi convidada para integrar o grupo. A reunião dos originais para publicação do livro foi incentivada pelos próprios técnicos da equipe. “Eles é que me fizeram dar valor ao que eu escrevia”, conta.
RITMO DA NATUREZA
A maior parte dos poemas são registros rimados das etapas que vivenciou no programa, onde permaneceu atuando como voluntária durante 21 anos, até o projeto ser extinto. A ele a autora dedica muitos versos: “Gralha Azul é uma ave/Que habitava o nosso chão, Que pela sobrevivência/Sabia plantar pinhão./Hoje pela incoerência/Está quase em extinção,/Porque o belo pinheiro/ Já não existe na região. Agora empresta seu nome/ Nessa grande missão, /Para mostrar ao ser humano/ O que é preservação,/Com isso dizer ao mundo / Que ao amor e humanidade/ Nos faz todos irmãos./
No trabalho voluntário, ela usa a linguagem poética, a contação de histórias e também a montagem teatral para sensibilizar principalmente as crianças do Assentamento Rio Mansinho e da comunidade de Catiras para a necessidade de preservação da terra onde vivem e de se afastarem das drogas e do alcoolismo. “Se eu não conseguir reverter a situação dos mais velhos, não vou deixar as crianças irem para o caminho da destruição”.
Os versos misturam personagens humanos e inumanos que atravessam seu cotidiano. A defesa da igualdade entre todos os seres herdou do pai, José Antunes Pereira, grande amante da natureza e defensor dos animais. “Tenho paixão pela vida animal e acho muito importante para o ser humano essa convivência. Pra mim o bicho tem tanto sentimento quanto a gente, tem compreensão e tudo”. Em sua propriedade, chamada Síto Pai Tejo, em homenagem ao pai, os animais quase falam com ela: “É muito gratificante essa vida”.
Lula, que nunca conheceu o ex-presidente da República, mas já era chamada assim antes de saber da sua existência, termina todos os seus poemas se apresentando, à moda dos trovadores, como em “Estrelinha da manhã”: “Como pode um ser tão pequeno/Conter uma alma tão grande?/Queria escrever coisas bonitas/ Mas meu ser se encabula/ Recebe a flor do meu agradecimento/ E um grande abraço da Lula”. Longos e marcados por um vocabulário simples e rimas cheias, os versos mostram trabalho e fôlego de poeta. Além de uma estética própria, a obra carrega um valor histórico, à medida que cita pessoas, acontecimentos e cenários implicados nesse trabalho que une arte, cultura e cidadania.
A poesia de Lula tem um ritmo alusivo à vida rural, como em “Canção dos Animais”, em que as estrofes são sempre intercaladas pela marcação do verso “O cravo…”: “Minha gente com licença/Agora vamos brincar/E uma bela canção/Nós aqui vamos cantar./Aprendemos que o roçado/ Não devemos então queimar./ Como fica a bicharada/Onde é que vão morar./ O cravo… Aprendemos direitinho/Fazer a preservação/Com o povo da capital/E os daqui da região./Bicharada tão contente/Agradece comovida,/Pois é muito importante/ Preservar sua vida./ O cravo…”
Embora sendo seu primeiro livro publicado, Lula participou de alguns concursos literários através de editoras em São Paulo e foi selecionada para antologias. Completou o segundo grau e cursou dois anos de letras português, em Palmas, no Paraná. “O livro é a coroação, a valorização do meu trabalho, de tantos anos de dedicação. É um prêmio que eu jamais me considerava capaz de alcançar, um sonho que parecia irrealizável, pois eu não teria condições financeiras de publicar meu livro”, diz ela, que tem mais uns 70 poemas guardados, prontos para uma nova oportunidade.
Texto: Raquel Wandelli
Assessora de Comunicação da SeCArte/UFSC
37218729 e 37218910 e 99110524
“E foi assim que, sem mais escorregar nada não e com bem menos de dificuldade, ele apegou-se um só instantinho àquele e último galho, antes de se despenhar de lá de cima e chegar no ao-chão a bordo de um baque seco cheio de ecos. Que tapa dado em cara de filho e queda de suicida nunca param de ecoar.”
(trecho de Ao que minha vida veio, de Alckmar Luiz dos Santos)
Tapa dado em cara de filho e queda de suicida nunca se desesquece, sobretudo quando assistidos por um futuro escritor. Ficam mesmo “atroando ainda depois de terem silenciado as carpideiras todas, e desaparecido tudo quanto é soluço fingido e não”, como diz a abertura do romance de Alckmar Luiz dos Santos. Vencedor do Concurso Romance Salim Miguel, promovido pela Editora UFSC no ano passado, Alckmar faz a cena de um adolescente de 17 anos caindo de um prédio de 12 andares que guardou na memória por muitos anos derivar e entrelaçar-se à aparição do cometa de Halley em 1954. O romance dá partida nos anos 30 e se desdobra em quatro décadas de alucinante narrativa, desfilando uma rede de paisagens e de personagens históricos e fictícios na saga do tropeiro Juca Capucho.
Depois do lançamento em Florianópolis e na capital paulista, obra e autor estão sendo recebidos em festa em Silveiras, no interior de São Paulo, terra natal do escritor e cenário dessa narrativa que entremeia lembranças de juventude no universo campeiro e história do Brasil em tempos de guerra e de esquadria da fumaça. O lançamento ocorrerá às 19h30min, na Terra dos Encantos. Radicado há 20 anos em Santa Catarina, onde é professor de Letras e Literatura da UFSC e coordena há 17 anos o Núcleo de Pesquisa em Informática Linguística e Literatura, maior banco digital de literatura do Brasil, o escritor carrega na sua criação o traço dos lugares geográficos e literários onde viveu.
Na reinvenção de uma sintaxe tropeira, na largueza e riqueza de vocabulário que lança o dicionário regionalista em uma linguagem e uma reflexão universalizante, salta aos olhos a influência da prosa de Guimarães Rosa, cuja obra Alckmar estudou no mestrado. A gramática ao mesmo tempo erudita e popular, o modo selvagem de enrilhar as frases e puxar os diálogos, trazendo para o registro escrito o ritmo e a musicalidade da fala tropeira, torna a leitura desafiante, mas sem freios. A estranheza de vocabulário não param a leitura, trôpega como um terreno montanhoso, mas veloz como um cavalo xucro. Não é do tipo de romance que começa devagarzinho, para ir fisgando o leitor aos poucos. Ao que minha vida veio começa com o cavalo encilhado e dispara até o fim, antes que o leitor pense em saltar, montado na garupa de um narrador que busca descobrir na história de sua região suas próprias origens: o nome do pai e da mãe que lhe são escondidos.
Na busca de repostas para sua história pessoal, há o esforço de reconstrução de fatos da história do Brasil. “Por exemplo, há uma passagem do cometa Halley, contada pelo meu avô, que ficou muito espantado ao ver voar aquela bolona com rabo no céu.” Esse evento individual se emaranha a casos importantes para a região, como a revolução de 1932, quanto Silveiras foi bombardeada por aviões cariocas das forças federais, chamados de vermelhinhos pelos habitantes. “É historia que ouço ainda hoje de minha mãe. Ninguém conhecia avião, mas todos sabiam que dele se jogavam bombas”. A história adentra a Segunda Guerra Mundial, quando o personagem desiludido, vai, como voluntário da FEB, lutar na Itália e se entremeia com memórias da infância do autor sobre pessoas que perderam amigos na guerra ou de jovens que regressaram loucos. O romance passa pelo suicídio de Getúlio, em 54, e segue sempre cruzando a história miúda com a história grande, uma forma, segundo o responsável por essa obra de alquimia, de dizer que uma é tão importante quanto a outra.
Sobre o autor
Alckmar Santos é professor de Literatura Brasileira na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), onde coordena o Núcleo de Pesquisas em Informática, Literatura e Linguística (NUPILL). Foi pesquisador convidado na Université Paris 3 – Sorbonne Nouvelle (2000-2001) e na Universidad Complutense de Madrid (2009-2010). É também poeta, romancista e ensaísta. Autor dos livros Leituras de nós: ciberespaço e literatura, Dos desconcertos da vida filosoficamente considerada (ensaio e poemas, respectivamente Prêmio Transmídia – Instituto Itaú Cultural), Rios imprestáveis (poemas, Prêmio Redescoberta da Literatura Brasileira da revista Cult).
Sobre o livro
Romance – Ao que minha vida veio…
Autor: Alckmar Santos
Editora UFSC
Páginas: 202
Preço: R$ 29,00
Lançamento
Data: dia 3 de fevereiro de 2011.
Hora: 19h30min
Local: Terra dos Encantos, em Silveiras (São Paulo)
Contatos do autor:
E-mail: alckmar@cce.ufsc.br
Textos: Raquel Wandelli
Jornalista – SeCArte – UFSC
Fones: 37218729 e 37218910 e 99110524
www.secarte.ufsc.br www.ufsc.br
De folias e melodramas, de festa e de luto. Disso é feito a arte e a vida. A nossa vida e a dos poetas, que fazem da tragédia e da celebração a matéria-prima da epifania poética, como Rodrigo de Haro, que lançou na terça-feira à noite, na Fundação Cultural Badesc, dois livros de poemas em uma única edição pela Editora UFSC. Juntas, as duas obras, Folias do Ornitorrinco e Espelho dos Melodramas, costuram a unidade antagônica representada pela imagem dessa espécie meio ovípara, meio mamífera que o autor homenageia no título e no poema “Ornitorrinco”.
Dando vazão à nova obra poética do multiartista ou pan-artista Rodrigo de Haro, a Editora UFSC brindou seus leitores com uma concorrida noite de vinho, poesia e virtude integrada as comemorações do aniversário de 51 anos da universidade. Depois de ouvir a secretária de Cultura e Arte, Maria de Lourdes Borges e o diretor da Editora Sérgio Medeiros discursarem sobre a importância de sua obra, o poeta falou ele próprio do seu ímpeto criativo. Em seguida, vestido de terno branco, com um cravo na lapela e o indefectível chapéu panamá, retribuiu a acolhida dos leitores realizando um sarau na varanda do prédio histórico do Badesc. Em meio a uma grande roda de amigos e admiradores, na maior parte artistas e intelectuais como ele, leu, com um fundo sussurrante de guitarras, versos escolhidos, entre Folias e Melodramas, o primeiro, composto de poemas mais reflexivos e o segundo, mais narrativos.
A imagem do ornitorrinco bem representa esse poeta-pintor, filho do artista plástico Martinho de Haro e de Maria Palma, uma dona de casa de notória sensibilidade. “Elaborado, como todos nós, de partes antagônicas para maior triunfo da unidade”, o ornitorrico é, como escreve o poeta, “animal sonhador que fecunda e brota de si mesmo”. Nascido em 1939 em Paris, por peripécias do destino, Rodrigo foi o fruto da lua de mel parisiense dos pais, que gozavam uma viagem de estudos recebida como prêmio pelo famoso pintor modernista.
Resgatado às pressas da maternidade quando os nazistas invadiram a França, o recém-nascido fugiu nos braços dos pais da capital mundial da arte, e retornou para a instância da São Joaquim no planalto catarinense, a quem dedica com grande afeto suas melhores elaborações surrealistas em conto e poesia. Sobre essa história, diz ainda o poema: “Celebremos as núpcias do ornitorrinco/ gentil e pertinaz. Brindemos/ a natura folgazã, que – /por incansável amor/ao paradoxo – cheia de/ recursos, concebeu/este jardim de todas as delícias/ com a torre inclinada e/o tarot de Marselha./– Mas sobretudo/criou o ornitorrinco solidário”.
Na transgressão da dualidade entre o universal e o local, o sagrado e o profano, o clássico e o maldito, o político e o surreal se constrói o universo imagético desse delicado e erudito artista que deixou a escola ainda adolescente para construir um caminho próprio de formação. O paradoxo Rodrigo de Haro tem 14 livros publicados e pelo menos outros seis manuscritos (de contos, poemas, novelas) esperando edição. Sua marca como artista plástico – o único catarinense que consta nos catálogos internacionais como pintor e poeta surrealista – está em vários cantos de Florianópolis, onde se criou entre artistas e intelectuais e se confunde com a própria paisagem da Ilha. A mais notória cobre as paredes externas do prédio da Reitoria da UFSC, onde construiu o maior mosaico em extensão do país, com 430 metros quadrados.
SHAKESPEARE E A DITADURA
Dos tempos da Ditadura Militar guarda uma história incrível. Ele a conta em tom baixo e com reserva – não quando lhe pedem, mas quando quer demonstrar o quanto a arte e a erudição, ao contrário do que prega o senso comum, podem elevar o espírito, não importa a classe social. Anos 60, integrante do grupo dos poetas surrealistas brasileiros (Cláudio Willer, Roberto Piva), foi preso perambulando à noite pelas ruas de São Paulo. Jogado em uma cadeia paulista com presos comuns, teve que se apresentar.
Quando os líderes da população carcerária souberam que o novo companheiro era um poeta, exigiram-lhe uma prova: que recitasse seus versos. Emparedado, Rodrigo só se lembrou de Hamlet, de Shakespeare, do qual sabia algumas falas de cor. Começou a declamá-lo e ao chegar à célebre passagem “A vida não passa de uma história cheia de som e fúria contada por um louco significando nada”, todos estavam a sua volta, aplaudindo-o, alguns mudos, outros em pranto. Os 20 dias de prisão passaram depressa para o novo líder-poeta, que comandou longas noites de sarau e leituras compartilhadas. Dessa história, quase uma epifania, ficou a certeza de que a literatura não precisa – nem deve – ser facilitada para se tornar acessível, pois como o ornitorrinco, a arte é feita de uma matéria que brota dentro das mentes e corações.
Texto: Raquel Wandelli, Jornalista na SeCArte/UFSC
Fones: 37218729 e 99110524