Nota de Pesar: falece o artista Rodrigo de Haro, criador do mural de mosaicos símbolo da UFSC

02/07/2021 08:30

Rodrigo de Haro foi homenageado por sua obra, na UFSC, em 30 de novembro de 2019. (Foto: Henrique Almeida)

A Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e a Secretaria de Cultura e Arte (SeCArte) comunicam, com pesar, o falecimento, aos 82 anos, do artista multifacetado, autor do mural de mosaicos que é símbolo da UFSC, Rodrigo de Haro. O artista faleceu na manhã desta quinta-feira, 1º de julho, em sua casa, em Florianópolis. Ele tinha 82 anos, e enfrentava problemas cardíacos e renais.

Artista plástico, escritor, poeta, muralista, intelectual, pensador e mosaicista, membro da Academia Catarinense de Letras: são muitos os títulos para a genialidade de Rodrigo de Haro.

“Nosso mosaicista maior, ele foi um ícone da cultura catarinense. Um intelectual, poeta, artista de peso. Sua ausência será muito sentida na cultura de Santa Catarina. Um alento é agora estarmos dando continuidade à obra, finalizando este que é nosso símbolo, um dos principais mosaicos do nosso continente, realizando um sonho do Rodrigo de Haro. Ele era um ícone, mesmo, uma figura ímpar, sempre falava de seus projetos, para além do término do mosaico, ideias que agora se foram com ele”, disse o reitor da UFSC, Ubaldo Cesar Balthazar.

“É uma perda inestimável para a arte e cultura catarinenses. Um artista de sensibilidade e criatividade ímpar, que no momento estava finalizando um dos maiores murais da América Latina, em torno da Reitoria. Além de um grande artista, um ser humano maravilhoso, doce e amigo. Deixará um vazio imenso nos nossos corações”, declarou Maria de Lourdes Alves Borges, secretária de Cultura e Arte da UFSC (SeCArte).

Mosaico de Rodrigo de Haro é finalizado em 2021. (Foto: Divulgação)

O artista trabalhava recentemente na finalização do seu famoso mosaico, que abraça a Reitoria da UFSC. Finalizar a obra era um dos grandes objetivos de Haro, que sempre lembrava em suas entrevistas, que seu trabalho estava inacabado. “Retomar qualquer trabalho desse porte é para qualquer artista uma promessa de felicidade”, disse, em 2016. “A ambição de levar a cabo este trabalho, este mural da nossa Universidade Federal de Santa Catarina me persegue há anos”, declarou ao jornalista Júlio Cancellier. A colocação do mosaico está na reta final, e ocorre nas colunas de sustentação da parte posterior do prédio da Reitoria, com financiamento de emenda parlamentar do senador Espiridião Amin.

Herança francesa

Nascido na França, em 1939, Rodrigo Antônio de Haro era o filho primogênito do pintor Martinho de Haro (1907 – 1985), que, na época de seu nascimento usufruía de uma bolsa de estudos na Académie de La Grande Chaumière, de Paris. A bolsa de estudos foi conquistada no Salão Nacional de Belas Artes de 1937. Com o inicio da segunda guerra, em setembro 1939, a família voltou às pressas para o Brasil.

O nascimento parisiense, segundo o próprio artista, marcou para sempre sua trajetória no cenário artístico. Crescendo num meio de arte e cultura, Rodrigo seguiu o caminho ditado pela genética da família: a pintura lhe veio dos conselhos paternais e a literatura graças à biblioteca do avô maternal Antônio Palma. E foi entre quadros, pinturas e pinceis, saraus, livros e leituras que Rodrigo se consolidou como pintor, desenhista, gravador, escritor, poeta e contista.

Sua herança francesa também rendeu-lhe homenagens. Em dezembro de 2019, Haro recebeu, das mãos do cônsul Honorário da França em Florianópolis, Jean-Victor Martin, e da secretária de Cultura e Arte da UFSC, Maria de Lourdes Alves Borges, uma placa nas línguas portuguesa e francesa. O prêmio simbolizava o reconhecimento e relevância da obra do artista na UFSC e no estado de Santa Catarina.

Obra

Rodrigo de Haro apresenta seu mural em visita com autoridades, em 1995 (Foto: Acervo Agecom)

Rodrigo de Haro é graduado em Arquitetura e Urbanismo pela UFSC, doutor pela Universidade del País Vasco e pós-doutor em Arte Pública pela UFF-RJ. Em poesia, atuava desde 1960 como organizador do movimento surrealista e teve seus poemas publicados em livros no Brasil e em antologias na Espanha e Estados Unidos.

“Minha obra mais expressiva em termos de mosaico, fiz sempre com a colaboração e auxílio do meu querido compadre Idésio Leal. As imagens desse mosaico circularam pelo mundo, como símbolo da universidade”, disse o artista, em entrevista a Zeca Pires, no especial “A Cor da Nossa Tela”, da TV UFSC.

>> Assista “A Cor da Nossa Tela – Rodrigo de Haro”

O mural, com 440 metros quadrados de área, foi construído entre os anos 1997 e 2000 nas paredes externas da Reitoria da UFSC.

Haro e sua obra, em 2009, quando foi restaurada. (Foto: Acervo Agecom)

Nomeada “Muro da Memória”, a obra foi criada por Rodrigo de Haro e Idésio Leal, seu “compadre e assistente”. Juntos, emendaram dias e noites pesquisando a história das Américas. Um dado se transformava em imagem na cabeça do artista, que era desenhada numa imensa parede e, depois, coberta com pequenos e coloridos pedaços de azulejo. Os textos da obra da primeira parte são poéticos, livros inaugurais e crônicas pré-colombianas, literatura colonial e relatos de viagens, poesia contemporânea e moderna da ilha. Já na segunda parte, encontram-se narrativas, poemas, lendas e viagens dos açores.

Nos mosaicos de Haro, as imagens parecem brincar com o espectador e, peça por peça, vão narrando a história das Américas. Há também fragmentos de textos do folclorista Câmara Cascudo, dos navegadores e cronistas Francisco Lopes de Gómara e Adelbert von Chamisso e dos escritores Raul Bopp, Pedro Port e Alcides Buss.

Os textos foram confeccionados em técnica “musiva”, com material de azulejos recortados, que unidos formam o desenho artístico. A execução se deu durante a década de 90 nas gestões dos reitores Antônio Diomário de Queiroz e Rodolfo Joaquim Pinto da Luz. Localizada no interior do prédio da Reitoria está outra obra de Haro – a homenagem à Santa Catarina de Alexandria, realizada entre 1995 e 1996. Em 2009, durante a gestão de Alvaro Toubes Prata, o mosaico foi restaurado. Em 2012, durante a gestão de Roselane Neckel, Rodrigo de Haro voltou a propor à Universidade a finalização da obra. Em 2016, Luiz Carlos Cancellier colocou a obra como uma das ações a serem cumpridas em sua gestão, e em 2021, durante a gestão do reitor Ubaldo Cesar Balthazar a obra teve início.

A comunidade universitária une-se aos cidadãos catarinenses e brasileiros ao homenagear Rodrigo de Haro, e solidariza-se com sua família e seus amigos nesta dolorosa despedida.

Texto: Agecom/UFSC
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