Literatura não é fórmula matemática: entrevista com Luiz Costa Lima

26/08/2011 02:14

Autor de cerca de 20 livros, alguns dos quais se tornaram clássicos nos cursos de literatura do país, Luiz Costa Lima lançou seu primeiro livro aos 26 anos, sob o investigativo título de Por que literatura, assim, sem ponto de interrogação. Com a obra, o recém-admitido professor de literatura da Universidade de Pernambuco tentava dar uma contribuição para a teoria literária, mas também uma resposta tardia a si mesmo e ao pai. A vida do autor de Limites da voz (1993) e Mímesis: desafio ao pensamento (2000) se vocacionava para o estudo da matemática, até que a leitura de Montanha dos sete patamares, biografia de Thomas Merton, o convertesse não para a religião, como no caso do estudante da Universidade de Columbia, mas para o mundo da ficção e das ciências humanas. E foi com preocupado espanto que o pai, engenheiro bem sucedido, indagou ao adolescente de 16 anos que lhe comunicava a decisão de abraçar a literatura: “mas como se estuda isso?”

Passadas cinco décadas de intensa produção de crítica e teoria literária, o professor do Instituto de Letras da UERJ e de História da PUC/RJ, que esteve nesta semana em Florianópolis participando como conferencista do I Seminário dos Alunos de Pós-Graduação em literatura da UFSC, ainda não encontrou a resposta formatada para a questão. E é provável que o respeito à dificuldade – e mesmo impossibilidade – de definir o que é literatura, para que serve e como deve ser estudada seja o que diferencia Costa Lima dos teóricos que tratam a matéria literária com a cientificidade das ciências exatas, colocando o método à frente da leitura e das possibilidades de reflexão que ela proporciona no campo da história, filosofia, sociologia etc.

Aos 74 anos, natural do Maranhão, Costa Lima narra com humor e simplicidade essa história de ingresso no mundo das letras como alegoria de sua visão atual sobre a teoria literária – uma busca em incessante transformação, cuja melhor expressão é a herdada do escritor irlandês James Joyce: “a work in progress”. Escritos de Véspera, livro inédito que lançou pela Editora da UFSC na quinta-feira, 18, após palestrar para um auditório lotado sobre a história da teoria literária no Brasil, é uma mostra viva do trabalho intelectual como uma obra em construção. Nele, o crítico percorre várias teorias e métodos sem fixar âncora em nenhum e também sem descartar a abordagem anterior ao descobrir uma nova, como se fosse sobrepondo, segundo ele mesmo, as “camadas de uma cebola”.

Proposto por alunos de literatura com quem formou um grupo de estudos nos anos 70, o livro reúne artigos fundamentais produzidos nos anos de chumbo sobre a obra de Machado de Assis, Euclides da Cunha, Guimarães Rosa, João Cabral de Melo Neto, em diálogo com clássicos como Stendhal e Lawrence Stern e analisados sob a perspectiva marxista e estruturalista do antropólogo Lévy Strauss, de quem foi amigo e admirador. Um deles, dedicado a Guimarães Rosa, foi escrito em parceria com o antropólogo Viveiros de Castro e, como os demais, mostra a vitalidade do estruturalismo e ao mesmo tempo a necessidade do crítico de ultrapassar essa abordagem. O salto teórico seguinte pode ser apreciado no último artigo da coletânea, intitulado “Representação Social e Mímesis”, escrito no início dos anos 80. Nele, o Costa Lima de uma segunda fase anuncia a influência da teoria da recepção, de Wolfgang Iser, que conheceu anos antes quando, com o passaporte cassado e impedido de voltar ao Brasil pela Ditadura Militar, viajou para a Alemanha. “Com a abertura problemática que os alemães me mostravam, percebi que o estruturalismo de Strauss dava conta do aspecto antropológico das mitologias indígenas, mas não da complexidade da obra literária”. Nesse artigo, o autor de O Controle do imaginário (1984) e Limites da Voz: Kafka (1993) relê a poética de Aristóteles para revolucionar o conceito de mímeses, que passaria a perseguir daí em diante, tirando-a da categoria inferior de reprodução da realidade.    

Durante a conversa de quase duas horas no jardim do Hotel Quinta da Bica d´Água, Costa Lima intersecta esses tempos simultâneos desde a pergunta do primeiro livro, que permanece até hoje e esse Escritos de Véspera, que publica pela editora catarinense aos 74 anos. Tão interessante quanto o conteúdo das análises é o fato de entreverem esse percurso antilinear, da maturidade à juventude intelectual de um dos mais importantes teóricos da literatura do Brasil.

Raquel Wandelli

Jornalista, doutoranda em Literatura pela UFSC e professora de jornalismo na Unisul, autora de Leituras do Hipertexto: viagem ao Dicionário Kazar, publicado pela EdUFSC/IOESP

raquelwandelli@yahoo.com.br

Obra que redescobre manuscrito com história das Fortalezas será lançada em 6 de setembro

26/08/2011 02:00

 Santa Catarina já teve 26 Fortificações de Defesa no século XVIII e o Rio Grande do Sul chegou a erguer 42, das quais sobram oito na Grande Florianópolis e uma em São Francisco do Sul e as ruínas de apenas duas no estado vizinho. Em alguns momentos mais tensos na história das invasões e das disputas territoriais entre Portugal e Espanha, praticamente toda a população da antiga Desterro e do Rio Grande de São Pedro viveu protegido pelas Fortalezas. Examinando-se mapas demarcados dessa época, observa-se que se enfileiravam uma ao lado da outra, formando extensos cordões nas ilhotas e ao longo do litoral. O início dessas construções de defesa coincide com a própria data de fundação dos dois estados, tamanha foi sua importância no desenvolvimento dos povoados. As possibilidades de se conhecer a vida dentro dessas cidades fortificadas e o seu funcionamento esteve por três séculos encerrada dentro de um manuscrito original de 1786 que só agora vem à luz da história com a publicação de uma grande obra que une os esforços da iniciativa individual, pública e privada.

Ilustração do manuscrito

publicação tardia desse documento inédito pela Editora da Universidade Federal de Santa Catarina e Prefeitura de Florianópolis, com apoio cultural da Unimed, devolve aos pesquisadores e curiosos em geral a chance de conhecer melhor esse capítulo decisivo e ainda obscuro da história do Brasil. O mérito maior cabe à determinação de dois pesquisadores que inscreveram o projeto de publicação explicada, complementada e ilustrada do chamado Códice de Santa Catarina na Lei Municipal de Incentivo à Cultura da Fundação Franklin Cascaes: Roberto Tonera, arquiteto da UFSC, responsável pelas obras de restauração e conservação das fortalezas da Ilha de Santa Catarina mantidas pela universidade, e Mário Mendonça de Oliveira, professor de arquitetura da Universidade Federal da Bahia, condecorado pelo Exército por sua obra de reconstituição da memória militar do Brasil e restauro das fortificações.

Ambos são responsáveis pela organização do livro “As defesas da Ilha de Santa Catarina e do Rio Grande de São Pedro em 1786”, que será lançado em uma data histórica em um lugar também histórico, na véspera do aniversário da Independência do Brasil, em 6 de setembro, às 19 horas, no Palácio Cruz e Sousa. Com uma tiragem de mil exemplares, a obra será distribuída gratuitamente às escolas públicas, meios de comunicação e instituições ligadas à memória e patrimônio. A edição inclui textos introdutórios e explicativos sobre o contexto histórico, mapas, iconografias, plantas das fortalezas da época complementadas com fotografias das fortificações ainda existentes, e um glossário ilustrado que busca auxiliar na compreensão dos termos técnicos do manuscrito, reproduzido em forma de fac-símile, ao lado da transcrição em ortografia atualizada. A obra acompanha ainda um CD–ROM com o conteúdo do material impresso em linguagem multimídia, com recursos de animação tridimensional e links hipertextuais. O lançamento terá a presença do diretor do Arquivo Histórico Militar de Lisboa, Aniceto Afonso, que cedeu os direitos de publicação e assina a apresentação do livro, exaltando-o como “um acontecimento cultural de grande relevo”. 

Mas há um primeiro autor que deu início a tudo, quando a forma de registro recorrente da história no Brasil ainda era a dos calígrafos medievais: o engenheiro militar José Correia Rangel. De nacionalidade indefinida, Rangel escreveu de próprio punho o Códice de Santa Catarina do qual seus seguidores partem para compor as 223 páginas do dossiê moderno. Em letra cursiva esmeradamente talhada a pena e no português do século XVIII, Rangel compôs o documento duas partes: a primeira contém o levantamento das fortificações, que na época chegaram a ter uma população de quase mil habitantes, e dos uniformes das tropas da Ilha de Santa Catarina (atual Florianópolis) e do Rio Grande de São Pedro (primeira cidade do estado vizinho). Apresenta ainda relações com quantidades precisas das guarnições militares existentes e dos armamentos e demais petrechos de artilharia, todos quantificados e discriminados com minúcia e precisão. A parte final do documento redescoberto traz um detalhado inventário de todos os mantimentos existentes nos armazéns das vilas gaúchas de Rio Grande, Porto Alegre e Rio Pardo. Extensas listagens de armas, munições, ferramentas, utensílios, móveis, tecidos, vestimentas, medicamentos; objetos de uso pessoal, religioso e militar; acessórios de montaria e veículos de transporte, instrumentos musicais (mostrando que a vida nas fortalezas não era tão dura) entre outros artefatos e equipamentos diversos oferecem matéria prima para historiadores da vida privada e pública.

Em 76 páginas de manuscrito, o autor entremeia 29 estampas coloridas, com desenhos aquarelados dos uniformes, das plantas das fortificações e dos mapas gerais de levantamento dos lugares fortificados das duas povoações. O bom gosto e talento na elaboração do incunábulo revelam a provável formação do autor em escolas jesuítas do Rio de janeiro, biografado no início do livro, conforme mostra sua biografia no início da obra. Pinçados na tropa entre os mais capazes intelectualmente e habilidosos nas artes dos desenhos, os engenheiros se destacavam dos oficiais comuns e da massa inculta dos exércitos coloniais, relegada ao analfabetismo. “Eles foram nossos primeiros urbanistas e projetistas de fortificações, igrejas, palácios, edifícios administrativos e outras obras civis e militares, muitas ainda presentes nos centros históricos das nossas cidades”, explicam os organizadores no prefácio.

Como viviam, como sobreviviam, como se organizavam, como se vestiam, o que comiam, o que consumiam, como casavam e constituíam família, como se divertiam, o que faziam os moradores das cidades fortificadas? Sem saber, o futuro capitão deixou um dos documentos mais antigos e importantes da história das fortificações dos dois estados, uma fonte para historiadores pesquisarem o cotidiano da vida militar, o estudo das fortificações portuguesas no Brasil e para a compreensão das origens históricas dos dois estados.  Antes de ser incorporado ao acervo do Arquivo Histórico Militar de Lisboa, o relatório técnico pertenceu no século XIX ao general de Divisão do Exército Português, Jaime Agnelo dos Santos Couvrer, grande colecionador de manuscritos e foi adquirido em 1919 pela Livraria dos Paulistas, de Lisboa.

Ao tomar conhecimento da existência do documento, em 2006, Tonera, que é também coordenador do Projeto Fortalezas Multimídia da UFSC, enviou projeto ao diretor da instituição portuguesa, Aniceto Afonso, solicitando permissão para que a universidade o publicasse na íntegra com as devidas complementações, transcrições e contextualizações sem os quais seria incompreensível para o grande público. O produto que chegará às mãos do leitor que comparecer ao lançamento é resultado, portanto, de um sonho acalentado durante cinco anos por essa rede de investigadores que começou a escrever, já no século XVIII, o grande Códice das Fortalezas.

SERVIÇO

Lançamento: “As Defesas da Ilha de Santa Catarina e do Rio Grande de São Pedro em 1786 – de José Correia Rangel”.

Organizadores: Roberto Tonera e Mário Mendonça de Oliveira.

Data: 6 de setembro de 2011 – terça-feira

Horário: 19 horas

Local: Museu Histórico de Santa Catarina – Palácio Cruz e Sousa

            Praça XV de Novembro – Florianópolis/SC

Publicação: Editora da UFSC

      Patrocínio: Lei Municipal de Incentivo à Cultura da Prefeitura de Florianópolis/Fundação Cultural        Franklin Cascaes

Apoio cultural: Unimed Grande Florianópolis

Apoio para o lançamento: Universidade Federal de Santa Catarina;  Projeto Fortalezas da Ilha/ Secarte-UFSC, Projeto Fortalezas Multimídia – UFSC; Museu Histórico de Santa Catarina.

Raquel Wandelli (jornalista, SeCarte)

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Final de semana tem II Festival de Música da UFSC!

26/08/2011 01:55

Foto do I Festival de Música A produção musical da Grande Florianópolis vai reinar neste final de semana no palco do campus universitário com a realização do II Festival de Música da UFSC. Aberto ao público e gratuito, o festival vai fazer ecoar na Praça da Cidadania a diversidade de ritmos e batidas de 20 composições próprias classificadas. Realizado pela Secretaria de Cultura e Arte da UFSC, o Festival abre às 18 horas do sábado (27), com a apresentação de dez bandas selecionadas e ao final show da John Bala Jones. O evento prossegue no dia 28, novamente a partir das 18 horas, com mais dez músicos selecionados e apresentação histórica do Grupo Engenho.

 São quatro horas diárias de MPB, reggae, rock e samba. Desta vez os músicos investiram mais em ritmos atuais e populares entre a juventude e bem menos em experimentações com música instrumental, clássica ou medieval, que predominaram no festival passado. “Teremos uma mostra animadora da qualidade e diversidade da produção local”, anuncia a secretária de Cultura e Arte da UFSC Maria de Lourdes Borges. Várias bandas que participaram do evento anterior foram novamente classificadas pela qualidade e originalidade das composições. O coordenador do festival, o músico Marco Valente, que coordena também o Projeto 12:30, do Departamento Artístico Cultural da UFSC, destaca os trabalhos das banda Karibu, Somato, Cravo da Terra e Cultivo pela riqueza poética, construção harmônica, melódica e rítmica, criatividade e originalidade. Mas também espera ser surpreendido por outras bandas novas, cujo trabalho ainda não conhece. “A performance no palco faz muita diferença”, lembra o coordenador.

A segunda edição do Festival de Música da UFSC chega ampliada e melhorada. O número de inscritos que participou da seleção praticamente quadriplicou, qualificando ainda mais a seleção das músicas por uma comissão de cinco especialistas entre um total de 135 inscritas. Tecnicamente, a estrutura física e sonora também foi melhorada. Houve uma grande evolução técnica na qualidade dos equipamentos de sonorização, informa Valente. “Teremos o que existe de melhor em termos de estrutura e equipamentos, com telão de LED de alta definição e sistema flying PA (Public Áudio)”.

O palco para as bandas terá uma estrutura bem maior do que a de 2010, com uma área coberta de oito metros de largura. E o público, além da ampla área livre do campus, também poderá assistir ais show em uma área coberta de 12 metros de profundidade e 20 de largura em caso de chuvaForam alocados equipamentos de última geração tanto para transmissão quanto para captação de som e imagem visando à gravação de um CD e um DVD de qualidade profissional, como o lançado no dia 13 de julho com as composições classificadas no I Festival.

 Além da gravação, os músicos receberão troféus ao final do evento, que terá a apresentação e animação do locutor Guina. Na segunda, 22, o coordenador do evento e a equipe da SeCArte reuniram-se para acertar os detalhes técnicos com as duas bandas âncoras, que deverão tocar estritamente até as 22 horas, em respeito à legislação regulamentar de shows em áreas residenciais. A John Bala Jones, criada no final dos anos 90, que toca som pop, e o Grupo Engenho, que ficou famoso nos anos 70 e 80 com a produção de rock regional, foram escolhidas para valorizar o trabalho de música autoral na Grande Florianópolis, explica Valente. Vale dizer que pela primeira vez o grupo leva ao palco todos os integrantes desde a separação da banda.

 Em um novo contexto e de modo não competitivo, o evento recria o ambiente dos grandes festivais universitários que se projetaram como um espaço fundamental para o incentivo à produção musical e meio de contato entre o público e os artistas. “Queremos promover a formação de um público apreciador da música local e impulsionar o trabalho de novos músicos”, explica a secretária Maria de Lourdes Borges.

Acompanhe as informações sobre o festival no site www.secarte.ufsc.br ou pelo festivaldemúsica@facebook.com

 

II FESTIVAL DE MÚSICA DA UFSC – Programação

 

Apresentações do dia 27/08/2011 – Sábado

Ordem Músico / Banda
1 Entrando no País das Maravilhas – Banda Karibu
2 Não Esbarra – Banda Aislados
3 Kama – Taoana Padilha
4 Dominó – André Pacheco Henrique
5 Le Feu d’Amour – Banda Somato
6 Skalpelado – Banda Bergos
7 Discos do Roberto – Banda Supergrandes
8 Menino do Gueto – Banda Menino do Gueto
9 Ousada – Banda Zazueira
10 Esse Novo Disfraz – Nathalia Britos Gasparini

 

Apresentações do dia 28/08/2011 – Domingo

Ordem Músico / Banda
1 Tereza – Darlan Freitas
2 Cecília – Roberto Tonera
3 Voz do Coração – Banda Habitantes de Zion
4 Vaga-Lumes – Luciano Arnold
5 Inquietude – Caren Martins
6 Menino – Lucas Quirino
7 O Alguidar de Aguiar – Banda Cravo da Terra
8 Jazmim – Marcos Baltar
9 Groove Zone – Banda Top Groove
10 Impermanência – Banda Cultivo

 

http://facebook.com/festivaldemusicaufsc

Raquel Wandelli (jornalista, SeCarte)

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Café Filosófico desta sexta debate pensamento de Heidegger

25/08/2011 23:52

Ele foi o filósofo do ser e da existência. Ao lado de Bertrand Russel, Wittgenstein, Adorno e Michel Foucault, figura como um dos pensadores fundamentais do século XX que ajudam a compreender o ser e seu estar no mundo. Martin Heidegger é o pensador homenageado na próxima conferência do Café Filosófico, que o professor da UFSC Luiz Hebeche, especialista em sua obra, profere nesta sexta-feira (26), sob o título: “O último curso acadêmico de Heidegger: pensar e poetizar”.

Com acesso público e gratuito, a palestra abre o ciclo de encontros do Café Filosófico deste semestre dedicada à temática Estética e Filosofia da Arte, que vai até o dia 25 de novembro, sempre às 19 horas, no auditório do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFH). Realizado desde 2009 pela Secretaria de Cultura e Arte com apoio da Pós-Graduação em Filosofia e Núcleo de Investigações Metafísicas, o ciclo promove o encontro mensal de estudantes, professores e pesquisadores com grandes filósofos da contemporaneidade para a discussão de temas atuais e emergentes abordados por renomados estudiosos, segundo a secretária de Cultura e Arte da UFSC, Maria de Lourdes Borges. As exposições são marcadas pelo caráter introdutório e acessível ao grande público e se encerram com uma mesa de café.

Na continuidade do ciclo, o professor de Filosofia da UFSC Celso Braida falará, no dia 30 de setembro, “Sobre o sentido e o significado da expressão ‘isso é arte´”. Heidegger voltará à cena no dia 2 de outubro, com a conferência “Poesia: Fenomenologia, Hermenêutica: Heidegger, Souza, Nunes”, proferida pela professora Cláudia Drucker, do Curso de Artes Cênicas. No dia 4 de novembro, o filósofo Roberto Wu aborda “O niilismo na literatura: Dostoievski e Turgueniev”. A série encerra em 25 de novembro, com o filósofo Rodrigo Duarte falando sobre “Indústria cultural 2.0”.

Principal representante alemão da filosofia existencial, Heidegger (Meßkirch, 1889Friburgo, 1976) refundou a Ontologia, com a obra Ser e tempo, que deixou inacabada e o notabilizou em todo o mundo. Pela importância que atribui ao conhecimento da tradição filosófica e cultural, influenciou muitos outros filósofos, dentre os quais o existencialista Jean-Paul Sartre. O ponto de partida do seu pensamento, inspirado pela fenomenologia de Husserl e também pela antropologia cristã, é o problema do sentido do ser.

Heidegger  percebeu que o ser do homem está obliterado por seu passado e sua relação condicionada com o mundo, sintetizada em conceitos e sentimentos de preocupação, angústia, conhecimento e complexo de culpa. Para se desenvolver e libertar seu verdadeiro “eu”, o homem deve buscar se desvencilhar dessa condição cotidiana, apontou. Apesar da grandiosa produção intelectual, Heidegger é mais conhecido pelo público geral por sua desastrosa filiação ao Partido Nazista, posteriormente desfeita e renegada por ele mesmo, e também pelo relacionamento amoroso com a aluna e depois filósofa judia Hanna Arendt.

Professor de Filosofia da UFSC e doutor pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, na área de Linguagem e ontologia contemporâneas. Luiz Hebeche é estudioso de longa data de Wittgenstein, Heidegger, Gadamer, Ryle, Rorty, Davidson e Dennett. Atualmente desenvolve a linha de pesquisa em Metafísica com o projeto intitulado “O homem pluridimensional”.  É autor de várias obras e artigos sobre o pensamento do filósofo alemão: “O Escândalo de Cristo: Ensaio sobre Heidegger” (2005); “O escândalo da cruz – da fenomenologia existencial à gramática da faticidade” (2004); “A proclamação do Anticristo” (2003); “Desmitologizando Heidegger” (2003) e “Heidegger e os indícios formais” (2001).

Raquel Wandelli (jornalista, SeCarte)

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Contagem regressiva para o II Festival de Música da UFSC

22/08/2011 15:09

Tudo pronto para o II Festival de Música da UFSC, que no próximo final de semana vai levar à Praça da Cidadania da universidade uma mostra da produção musical da Grande Florianópolis pelo segundo ano consecutivo. Aberto ao público e gratuito, o festival vai fazer ecoar no campus Foto do I Festival de Músicauniversitário a diversidade de ritmos e batidas de 20 composições próprias selecionadas por uma comissão de cinco especialistas entre 135 músicas inscritas. Realizado pela Secretaria de Cultura e Arte da UFSC, o Festival abre às 18 horas do sábado, dia 27, com a apresentação de dez bandas selecionadas e ao final show da banda John Bala Jones. O evento prossegue no dia 28, com mais dez exibições e encerramento do Grupo Engenho.

Foto de Claudia Reis

MPB, regga e, rock e samba. Desta vez os músicos investiram mais em ritmos atuais e populares entre a juventude e bem menos em experimentações com música instrumental, clássica ou medieval, que predominaram no festival passado. “Teremos uma mostra animadora da qualidade e diversidade da produção local”, anuncia a secretária de Cultura e Arte da UFSC Maria de Lourdes Borges. Várias bandas que participaram do evento anterior foram novamente classificadas pela qualidade e originalidade das composições. O coordenador do festival, o músico Marco Valente, que coordena também o Projeto 12:30, do Departamento Artístico Cultural da UFSC, destaca os trabalhos das banda Karibu, Somato, Cravo da Terra e Cultivo pela riqueza poética, construção harmônica, melódica e rítmica, criatividade e originalidade. Mas também espera ser surpreendido por outras bandas novas, cujo trabalho ainda não conhece. “A performance no palco faz muita diferença”, lembra o coordenador.

A segunda edição do Festival de Música da UFSC chega ampliada e melhorada. O númerode inscritos que participou da seleção praticamente quadriplicou, o que qualificou ainda mais a seleção. Tecnicamente, a estrutura física e sonora também foi melhorada. Houve uma grande evolução técnica na qualidade dos equipamentos de sonorização, informa Valente. . “Teremos o que existe de melhor em termos de estrutura eequipamentos, com telão de LED de alta definição e sistema flying PA (Public Áudio)”. O palco para as bandas terá uma estrutura bem maior do que a de 2010, com uma área coberta de oito metros de largura. E o público, além da ampla área livre do campus, também poderá assistir ais show em

Selecionados para o II Festival de Música

uma área coberta de 12 metros de profundidade e 20 de largura em caso de chuvaForam alocados equipamentos de última geração tanto para transmissão quanto para captação de som e imagem visando à gravação de um CD e um DVD de qualidade profissional, como o lançado no dia 13 de julho com as composições classificadas no I Festival.

Além da gravação, os músicos receberão troféus ao final do evento, que terá a apresentação e animação do locutor Guina. Na segunda, 22, o coordenador do evento e a equipe da SeCArte reuniram-se para acertar os detalhes técnicos com as duas bandas âncoras, que deverão tocar estritamente até as 22 horas, em respeito à legislação regulamentar de shows em áreas residenciais. A John Bala Jones, criada no final dos anos 90, que toca som pop, e o Grupo Engenho, que ficou famoso nos anos 70 e 80 com a produção de rock regional, foram escolhidas para valorizar o trabalho de música autoral na Grande Florianópolis, explica Valente.

Em um novo contexto e de modo não competitivo, o evento recria o ambiente dos grandes festivais universitários que se projetaram como um espaço fundamental para o incentivo à produção musical e meio de contato

Foto de Claudia Reis

entre o público e os artistas. “Queremos promover a formação de um público apreciador da música local e impulsionar o trabalho de novos músicos”, explica a secretária Maria de Lourdes Borges.

Acompanhe as informações sobre o festiva no site www.secarte.ufsc.br ou pelo festivaldemúsica@facebook.com

II FESTIVAL DE MÚSICA DA UFSC – Programação

Apresentações do dia 27/08/2011 – Sábado

Ordem Músico / Banda
1 Entrando no País das Maravilhas – Banda Karibu
2 Não Esbarra – Banda Aislados
3 Kama – Taoana Padilha
4 Dominó – André Pacheco Henrique
5 Le Feu d’Amour – Banda Somato
6 Skalpelado – Banda Bergos
7 Discos do Roberto – Banda Supergrandes
8 Menino do Gueto – Banda Menino do Gueto
9 Ousada – Banda Zazueira
10 Esse Novo Disfraz – Nathalia Britos Gasparini

Apresentações do dia 28/08/2011 – Domingo

Ordem Músico / Banda
1 Tereza – Darlan Freitas
2 Cecília – Marco Sorriso
3 Voz do Coração – Banda Habitantes de Zion
4 Vaga-Lumes – Luciano Arnold
5 Inquietude – Cacá Martins
6 Menino – Lucas Quirino
7 O Alguidar de Aguiar – Banda Cravo da Terra
8 Jazmim – Marcos Baltar
9 Groove Zone – Banda Top Groove
10 Impermanência – Banda Cultivo

Raquel Wandelli (jornalista, SeCArte)

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Hora de compartilhar: A pesquisa literária entra em pauta na UFSC

16/08/2011 09:26
   Modernismo Brasileiro, poesia, literatura e crítica brasileira, poesia religiosa, hipertextualidade, literatura, arte e cultura africana, italiana e argentina, performance e dramaturgia. É só uma pequena mostra das pesquisas que mestrando e doutorandos debaterão dentro das 19 mesas temáticas que compõem o I Seminário dos Alunos da Pós-Graduação em Literatura da UFSC, marcado para o período de 16 a 18 de agosto, no Centro de Comunicação e Expressão. O evento abre às 9 horas de terça, no Auditório Henrique Fontes, com o pronunciamento da pró-reitora de Pós-Graduação Maria Lúcia Camargo e a conferência do professor de Literatura Raul Antelo (UFSC) refletindo sobre o desejo e o vazio no processo de pesquisa. Luiz Costa Lima (UERJ/ PUC-RJ), considerado um dos mais importantes críticos brasileiros, faz o encerramento, na sexta-feira, às 18 horas, com a conferência A História e a Teoria Literárias entre nós.         

         Logo após a conferência, às 20 horas, Costa Lima fará o lançamento de seu livro inédito publicado pela UFSC, Escritos de Véspera (veja resenha), uma reunião de ensaios de crítica literária que atravessam o estruturalismo e o pós-estruturalismo. Em sua conferência, o visitante ilustre também fará um comentário crítico geral sobre o andamento das pesquisas dos estudantes de Pós-Graduação em Literatura da UFSC. São 71 comunicações investigando questões éticas e estéticas emergentes da contemporaneidade, embutidas em temáticas, autores, obras e objetos textuais não ortodoxos, como: literatura e animalidade; infância, educação e histórias em quadrinho; crônica; estética e filosofia; música; jornalismo cultural; literatura e cidade; memória e inventário; guerra e ditaduras; cinema e televisão.                               

     O desafio de realizar uma dissertação de mestrado ou tese de doutorado é sempre mais estimulante quando as etapas do processo de pesquisa podem ser compartilhadas e mediadas pelos seus pares. Organizado pela Representação Discente da PPGL, o Seminário pretende proporcionar o encontro entre todos os alunos e favorecer a conversa, a reflexão e a socialização das suas pesquisas. O evento é, assim, um alargamento de horizontes pela perspectiva crítica do outro. “Temos o intuito não do consenso, mas de um diálogo plural e heterogêneo que potencialize a singularidade dos alunos e de suas pesquisas”, conforme explica a doutoranda Ana Carolina Chernicchiaro, uma das coordenadoras do seminário.

A programação completa e o resumo das conferências e das comunicações estão no site do evento: http://seminalitufsc.wordpress.com/

 Texto: Raquel Wandelli

99110524, 37219602 e 32845304

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Para salvar o pinheiro do Sul do Brasil

09/08/2011 15:20

Tudo o que se possa imaginar sobre a Araucária angustifolia, espécie comum nas regiões de planalto do sul do Brasil, é encontrado no livro O pinheiro brasileiro, de João Rodrigues de Mattos, que acaba de ser publicado pela Editora da UFSC e está sendo lançado em sua Feira de Livros na volta às aulas. Só o fato de reunir 560 figuras – fotos, desenhos, mapas, gráficos – e 127 tabelas dá a dimensão da profundidade da pesquisa do autor, engenheiro agrônomo aposentado que tem 12 obras editadas e mais de 100 trabalhos científicos publicados, especialmente sobre botânica.

Com 702 páginas, o livro de Rodrigues de Mattos começa fazendo um histórico da exploração da madeira do pinheiro nativo, fala das diferentes formações de pinheirais, analisa a sua propagação por meio de pinhões e os aspectos climáticos e geológicos relacionados à planta, que ainda é encontrada em boa quantidade nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, além de parte de São Paulo e, em menor grau, em Minas Gerais.

O livro também pode ser útil para quem planeja plantar o pinheiro, pois há um capítulo dedicado ao preparo do solo, adubação, espaçamento e outros cuidados requeridos pelo cultivo. A anatomia do pinheiro (lenho, galhos, raízes, folhas e frutos), a maturação, a armazenagem dos pinhões e os melhoramentos feitos por meio da tecnologia igualmente fazem parte da obra. O autor chega a detalhar aspectos relativos a queimadas e suas consequências, e dedica uma página à análise da brotação de pinheiros queimados e dos sobreviventes.

O nível de detalhamento do tema é tão acentuado que Rodrigues de Mattos se detém sobre números e medidas das árvores, processos de secagem da madeira e o seu beneficiamento, ou seja, a laminação, colagem e transformação em compensado. Outros derivados de alguns tipos de pinheiro são a celulose, o papel e a resina. No final, o autor compila dados sobre o número ideal de plantas por hectare, despesas com a plantação, custos de produção da madeira e as principais utilidades do pinheiro, que vão da construção de moradias aos pratos feitos à base de pinhão, passando pela fabricação de lápis e fósforos, mobiliário, aberturas, brinquedos, andaimes, pontes e embarcações.

Unidade de conservação – Na introdução, o autor lamenta a redução da área recoberta de pinheiros no Brasil. Para ele, isto aconteceu “por falta de conscientização geral, ou seja, o pinheiro cedeu espaço aos campos de pastagem ou para o plantio de soja”. Na contracapa, o professor Miguel Pedro Guerra, do Centro de Ciências Agrárias da UFSC, destaca que Mattos, “um dos mais prestigiosos botânicos do Brasil”, chegou a transformar sua propriedade rural, em São Joaquim, onde essas espécies ainda imperam, em uma unidade de conservação. “Pelo menos lá temos a certeza de que as novas gerações poderão contemplá-las e saber de suas histórias intemporais”, afirma.

João Rodrigues de Mattos é formado em Horticultura pela Escola Técnica de Agronomia de Viamão (RS), onde lecionou por oito anos, e é engenheiro agrônomo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Estudou botânica no herbário de Assunção, no Paraguai, e tornou-se doutor pela Faculdade de Ciências Médicas e Biológicas de Botucatu (SP). Coletou mais de 32 mil plantas, depositadas em museus botânicos nacionais e estrangeiros.

Por Paulo Clóvis Schmitz, jornalista na Agecom/UFSC

SERVIÇO:

Pinheiro do Brasil

Autor: João Rodrigues de Mattos

Editora da UFSC, 698 páginas, ilustrado

Lançamento: Feira de Livros da Editora da UFSC/LEU (28 de agosto a 2 de setembro)

Local: Praça da Cidadania da UFSC

Preço de capa: de R$ 29,00 (por R$ 14,50 na Feira)

Últimos sonetos, obra suprema de Cruz e Sousa, ganha reedição

09/08/2011 15:18

João da Cruz e Sousa (1861-1898) não teve tempo para usufruir do reconhecimento e da glória que perseguiu em vida, porque a morte o apanhou antes disso, vítima da miséria e da doença. Foi com Últimos sonetos, volume publicado postumamente em 1905, que se consolidou o aval da comunidade letrada a este artista maior, que ajudou a fundar a moderna poesia brasileira. Este é um dos lançamentos que a Editora da UFSC faz nesta semana, dentro da Feira de Livros que será realizada na Praça da Cidadania, no campus da Trindade. Trata-se da quarta edição da obra: depois da primeira, as outras saíram em 1984  pela Fundação Casa de Rui Barbosa, EdUFSC e FCC Edições e em 1997 pela EdUFSC e Fundação Casa de Rui Barbosa,  já há quase uma década esgotada.

A obra abre a coleção “Repertório”, de refinada e elegante edição, dedicada a autores fundamentais da literatura e do pensamento universal. São cerca  de 90 sonetos que trazem o Cruz e Sousa mais pungente, mais completo, mais próximo da perfeição formal e ainda mais próximo da morte, que antevia com descomunal clareza e estranhamento. Os próprios nomes dos poemas remetem a um estado de alma peculiar – piedade, grandeza oculta, alucinação, vida obscura, vão arrebatamento, espírito imortal, alma fatigada, consolo amargo, lírio lutuoso, aspiração suprema, condenação fatal.

É impossível dissociar o dilema pessoal, familiar e estético do autor do que ele colocou no papel, já descrente dos homens e do mundo e, mais adiante, já tísico, dominado pela tuberculose que o mataria, no interior de Minas Gerais. Com formação clássica, adotado que fora por uma família abastada da antiga Desterro, hoje Florianópolis, ele tinha noção de sua genialidade, mas trazia na mente as marcas da discriminação – fora impedido, por exemplo, de assumir um cargo público por ser negro. Como poeta, também foi tratado como um pária pela elite literária carioca, onde despontavam figuras aninhadas ao poder, como Olavo Bilac e Coelho Neto.

Sempre sujeito a empregos menores, a atividades que considerava aquém de sua capacidade e talento, a vida pessoal e afetiva do poeta também decaiu por conta da doença da mulher Gavita e dos filhos, que perdeu um a um, em meio à imensa pobreza que o atarantou. Tudo isso, aliado à busca de um ideal estético superior, influenciado pelos simbolistas europeus já consagrados, fez com que se tornasse, ao mesmo tempo, um ser amargurado e um artista em busca permanente da grandeza, do domínio da palavra, da legitimação pelos seus contemporâneos.

“Vida obscura” é um soneto que reflete esta sensação: “Ninguém te viu o sentimento inquieto, / Magoado, oculto e aterrador, secreto, / que o coração te apunhalou no mundo. / Mas eu que sempre te segui os passos / Sei que cruz infernal prendeu-te os braços / E o teu suspiro como foi profundo!”

Outro poema emblemático – cujos versos finais estavam em sua lápide, no cemitério em que permaneceu por muitas décadas, no Rio de Janeiro – é “Triunfo supremo”, em que abre mão dos “fúteis ouropéis mais belos”, ciente de sua vocação para a transcendência, e dá ao mundo o “adeus indefinido”, porque fora feito para outra dimensão. No fim, diz, numa referência ao próprio destino: “Quem florestas e mares foi rasgando / E entre raios, pedradas e metralhas, / Ficou gemendo mas ficou sonhando!”

Por Paulo Clóvis Schmitz,

Jornalista na Agecom

SERVIÇO:

Últimos Sonetos,

Autor: Cruz e Sousa

Editora da UFSC, 104 páginas

Lançamento: Feira de Livros da Editora da UFSC/LEU (28 de agosto a 2 de setembro)

Local: Praça da Cidadania da UFSC

Preço de capa: de R$ 22,00 (por R$ 11,00 na Feira)

A lição da arte negra

09/08/2011 15:15

Era um tempo de disputa entre os impérios, de massacre das colônias, de afirmação da superioridade bélica e étnica dos países anglo-saxões. Cenário de extermínio dos ditos povos primitivos. Tempo em que o eruditismo ocidental determinava o que era ou não era arte. Nesse transcorrer das duas guerras mundiais, foi um crítico de arte alemão perseguido pelo nazismo, amante das latinidades e das “culturas primitivas”, o responsável pelo descobrimento da escultura africana, com a qual pôs abaixo o paradigma evolucionista dominante de que só os povos ditos civilizados faziam arte.

Negerplastik (Escultura negra), a obra colossal de Carl Einstein que a Editora da UFSC acaba de publicar pela primeira vez em tradução para a língua portuguesa e lança na sua Feira de Livros de volta às aulas, elevou à condição definitiva de arte os objetos indecifráveis e “indatáveis” que os viajantes, missionários, comerciantes, saqueadores, militares e exploradores europeus colecionavam em suas excursões pela África subsaariana. E naqueles idos de 1915, estarreceu o mundo das Belas Artes com a lição de plasticidade e distanciamento subjetivo vinda dos rufares africanos, que ele poeticamente chamou de “a lição negra”.

Instaurando um olhar estético liberto do etnocentrismo europeu, o curto e vigoroso ensaio de Carl Einstein que antecede a reprodução de 111 esculturas em forma de estatuetas, máscaras, taças, trompas, bancos, efígies, bustos, cabeças, relicários, postes funerários, mudou para sempre a concepção ocidental de arte primitiva. Além de abrir-lhe o panteão das artes, autorizou e encorajou as relações, cada vez mais próximas, que a arte moderna, a literatura, a psicanálise, a filosofia, enfim, estabeleceram entre a cultura ocidental e a africana a partir de então. O exemplo mais particular é o movimento cubista, do qual Einstein participou ativamente como teórico. Desde Negerplastik não se pode mais duvidar do estatuto dessa escultura como arte ou ignorar a influência que exerceu nos grandes mestres modernos.

Mas antes que esses objetos, ainda hoje classificados nas galerias como “arte primitiva”, passassem das coleções particulares para as alas de museus internacionais, como o Louvre, ou ganhassem espaços exclusivos e de sucesso, como o Museu do cais Branly, em Paris, Carl Einstein empreendeu uma luta política e estética para demonstrar que as soluções africanas para problemas de volume, espaço, perspectiva, forma, movimento e plasticidade representavam um grande aprendizado para a escultura renascentista e romântica, inclusive para a obra do popular Rodin. A percepção mais arguta e sensível de Einstein talvez tenha sido a de que, em vez de perseguir a inclusão do espectador no efeito emotivo e subjetivo da obra, valorizado pela arte ocidental, a arte africana justamente se afirma na distância mítica e religiosa. O “artista primitivo” se identifica não com o espectador, nos ensina Einstein, mas com o adorador que vê na arte a única forma de transcender aos deuses sua condição humana. Nessa perspectiva, seus objetos não representam um sentido a decifrar: eles são o próprio totem, a própria expressão do culto ao sagrado.

Uma obra assim antológica merece a edição primorosa, de capa dura e preta, miolo em papel de gramatura especial para as 220 páginas de ilustrações com as figurações africanas, num total de 302 páginas. E merece também a equipe paratextual à altura: orelha assinada por Raul Antelo (UFSC), texto de apresentação da crítica e historiadora Liliane Meffre (Universidade de Borgogne, França), estudiosa de longa data da obra de Einstein, que considera o crítico fundamental do século XX, e resenha final de Roberto Conduru, da Universidade do Rio de Janeiro, sobre as conexões propostas por Einstein entre a escultura negra e a vanguarda artística europeia. Inês Araújo traduz Carl Einstein em contraponto com a tradução francesa de Meffre e Fernando Scheibe (aplaudido por Divagações, de Mallarmé), traduz a apresentação da historiadora.

Em sua introdução, Meffre discute o contexto histórico e artístico em que a obra se ergue, reconstituindo a trajetória do autor, não só feita de glórias e reconhecimento pelos jovens parisienses e pintores espanhois encantados com a lição da África, mas também de incompreensões por seus pares, perseguições políticas, longos períodos de hospitalização e privação material em que teve de se desfazer de sua coleção pessoal de objetos africanos para sobreviver. Depois de uma tentativa de suicídio frustrada, o alemão lança-se para a morte, “último ato de liberdade”, ao se jogar no rio Gave de Pau, em julho de 1940, na França invadida pelos nazistas. Deixou de herança sua paixão intelectual pela africanidade e pela latinidade que quase cem anos depois da primeira edição de Negerplastik, em 1915, o Brasil recupera. As honras a Einstein e ao seu achado arqueológico vêm, assim, de um país cuja “brasilidade”, como lembra madame Meffre, se alimenta de duas correntes construtivistas da arte e do pensamento do século XX marcadas pela intersecção: a modernidade e o primitivismo.

Por Raquel Wandelli

Doutoranda em Literatura pela UFSC

professora de jornalismo da Unisul

raquel wandelli 48 99110524

raquelwandelli@yahoo.com.br

SERVIÇO:

Negerplastik/Escultura Negra,

Autor: Carl Einstein

Tradução: Inês Araújo e Fernando Scheibe

Editora da UFSC, 302 páginas, ilustrado

Lançamento: Feira de Livros da Editora da UFSC/LEU (28 de agosto a 2 de setembro)

Local: Praça da Cidadania da UFSC

Preço de capa: de R$ 61,00 (por R$ 45,00 na Feira)

Editora da UFSC lança livro inédito de Costa Lima

09/08/2011 15:08

Esta reunião de ensaios de Luiz Costa Lima, que será lançada pela EdUFSC no dia 18, às 20 horas, no auditório Henrique Fontes, na presença do autor, apresenta e desenvolve duas facetas fundamentais do seu pensamento crítico. Primeiramente, o autor utiliza de maneira heterodoxa, vale dizer, pessoal, a complexa base estruturalista, para analisar textos literários do poeta João Cabral e dos romancistas Guimarães Rosa e Stendhal. A seguir, Costa Lima questiona o rendimento do paradigma estrutural dentro do trabalho crítico-analítico. Integra essa parte do livro um ensaio sobre a obra romanesca de Machado de Assis e um ensaio teórico centrado na categoria da “mímesis”, conceito que não se confunde, como acreditam os ingênuos, com imitação ou cópia.

Um dos maiores nomes da crítica literária brasileira, Luiz Costa Lima traz nessa coletânea textos fundamentais, nunca antes publicados em livro. Um desses textos foi escrito em parceria com o renomado antropólogo brasileiro Eduardo Viveiros de Castro, o teórico do perspectivismo indígena que proferirá conferência no auditório do CFH, da UFSC, no dia 10, às 18 horas. Ambos, Costa Lima e Viveiros de Castro, são, como se sabe, leitores atentos de Claude Lévi-Strauss e discutem, em suas respectivas obras, a herança do método estrutural de análise da arte e da cultura, que floresceu nos anos 1950 e 1960.

Escritos de Véspera propõe ao leitor algumas questões fundamentais, como a interseção entre o desejo e a lei no discurso literário. Com sua costumeira lucidez, Costa Lima aponta para o desgaste e a limitação do aparato teórico-metodológico estrutural na nova era que então se abria, nos anos 1970-80: a era da desconstrução e dos estudos culturais.

Assim, o leitor é convidado a sair da polêmica estruturalista dos anos 1960 e acompanhar a polêmica pós-estrutural das décadas seguintes, que se prolonga até os dias atuais, com o questionamento de noções como autoria, textualidade, historicidade etc.

Depois de dialogar intensamente com Lévi-Strauss, Costa Lima começa a dialogar, nestes textos, com outros teóricos, como René Girard, enfocando a questão da castração no plano do sentido. O livro, assim, vai apresentando passo a passo uma mudança de rumo na reflexão de Costa Lima, que culminará, após seu afastamento da objetividade estruturalista, nos seus estudos atuais da “mímesis”, da modernidade e da pós-modernidade, nos quais propõe um questionamento da estética e do papel do sujeito.

A inestimável herança de Lévi-Strauss é, desse modo, repensada sob o prisma da ruptura e da continuidade. Menos que um corte e mais que um prolongamento, o movimento da sua reflexão antes se caracteriza como retificação e salto. Retificação de estratégia que se configura em salto teórico. O crítico busca a consciência (social) do simbólico e as representações sociais. É então que entra em cena um interlocutor de peso: Wolfgang Iser.

Costa Lima revê, a partir daí, um dos principais impasses em que incorria o estruturalismo: o veto à subjetividade – a do leitor, a do crítico… Mas não se trata de mera conquista do “subjetivo”. Daí o autor de Escritos de Véspera afirmar: “a ‘mímesis’ não pode ser pensada a partir do indivíduo, quer o produtor, quer o receptor. Nela, sempre uma coletividade se faz ouvir.’ Percebe-se claramente que a readmissão do sujeito, posteriormente convertido em filão teórico específico, não se faz em desfavor da aprendizagem estrutural.

Escritos de Véspera conclui sua indagação com um ensaio teórico que já é considerado um dos momentos cruciais da moderna teoria literária, propondo um diálogo entre “mímesis” e representação social, que é o diálogo do presente, da atualidade.

CONFERÊNCIAS DE COSTA LIMA E VIVEIROS

Eduardo Viveiros de Castro e Luiz Costa Lima estarão na UFSC visitando a Feira durante o lançamento do livro: professor da UFRJ e pesquisador do Museu Nacional, Viveiros de Castro virá a convite do Curso de Antropologia para participar do colóquio internacional “Antropologia de Raposa”, de 8 a 11 de agosto, com a palestra intitulada: “Em busca de uma flecha perdida: variações sobre a difer-onça”, no dia 10, às 18 horas, no Auditório do Centro de Filosofia e Ciências Humanas.

Luiz Costa Lima, por sua vez, participará, a convite da Pós-Graduação em Literatura, do “I Seminário dos Alunos de Pós-Graduação em Literatura da UFSC”, de 16 a 18 de agosto. O professor da UERJ e da PUC do Rio de Janeiro vai proferir a conferência “A História e a Teoria Literárias entre nós”, às 18 horas, do dia 18 de agosto, no auditório Henrique Fontes, do Centro de Comunicação e Expressão. Será apresentado pelo professor Sérgio Medeiros (UFSC), diretor da EdUFSC, que coordena na sequência o lançamento de Escritos de Véspera, de Luiz Costa Lima, pela Editora da UFSC.

Textp: Divulgação

Contatos: Raquel Wandelli

99110524 e 32347366

raquelwandelli@yahoo.com.br

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SERVIÇO:

Escritos de Véspera

Autor: Luiz Costa Lima

Editora da UFSC

Lançamento: 18 de agosto, 20 horas, no Auditório Henrique Fontes

Local: Praça da Cidadania da UFSC

Preço de capa: de R$ 34,00 (por R$ 17,00 na Feira de Livros da Editora da UFSC/LEU (28 de agosto a 2 de setembro)