“A Literatura sempre esteve em mim” – Adir Pacheco (1952-2023)
Santa Catarina se despede hoje de Adir Pacheco (Lauro Muller – SC), que com seu canto, em verso e prosa, encantou seus leitores e expectadores. O artista plural, músico, performático, poeta, contista, cronista de 70 anos, faleceu em Florianópolis na noite deste domingo, 12 de fevereiro, depois de lutar há alguns anos contra um câncer.
A despedida de Adir Pacheco será nesta segunda-feira, 13 fevereiro, das 14 horas às 16 horas no Cemitério do Itacurubi em Florianópolis.
Em novembro, em entrevista à jornalista Andréa da Luz (Plural-ND Notícias), o escritor declarou que “A literatura sempre esteve em mim” e que a inspiração, nascida da leitura dos poemas do escritor angolano Agostinho Neto, o levou já em 1965 aos seus primeiros versos.
Escritor negro atuante nas ações culturais, esteve na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) em 2022 no “Novembro Negro” a dividir seus saberes e fazeres sempre envolvido no combate ao racismo e na inserção da poesia negra em diferentes espaços a partir de seus projetos nas redes sociais, como “Projeto amanhecer poético”, seja por vídeo ou podcast.
Em janeiro deste ano, no “Festival Saravá”, estava lá ele com o Grupo Olodum, do qual era colaborador atuante, trazendo a potência de sua voz, declamando poemas e fazendo outras “artices”.
Militar da reserva do Exército, foi condecorado com a Medalha Militar de Honra ao Mérito (A Castanheira) por seus serviços prestados na Amazônia durante os anos de 1996 a 1999.
No campo das artes, destaca-se sua atuação como membro fundador da Academia Catarinense de Letras e Artes (ACLA), da Academia de Letras e Artes de Florianópolis (ADLA) e do Grupo de Poetas Livres (GPL) de Florianópolis.
Na literatura, foi homenageado em 2019 com o título de Dr. Honoris Causa em Literatura, pelo Centro Sarmathiano de Altos Estudos Filosóficos e Históricos Rio de Janeiro- RJ; no mesmo ano recebeu a “Comenda da Paz Nelson Mandela” no grau de comendador pelo Conselho Internacional de Ciências letras e Artes (Coninter Artes) – IHGB – Rio de Janeiro – RJ.
Publicando poemas esparsos, seu primeiro livro data de 2015, somando mais de 15 títulos, destacam-se as obas: Voando com as Águias, Infinito Contido, Além do Espelho, Fragmentos d’Alma, Enigmas do Silêncio, Versos Peregrinos e Conselhos da Noite. O poeta espalhou poesia pela sua jornada.
A SeCArtE homenageia Adir Pacheco com o seu poema Jornada publicado em julho de 2019 na Revista Ruído Manifesto
Jornada
…E vergarás os ombros
sobre a terra ultrajada.
Olhos obscurecidos
ante a caminhada
que lenta,
desenha a sombra
das últimas jornadas
no adeus da vitalidade.
Aopó os sonhos,
aopó a carne,
aopó a vaidade.
Era desejável toda ironia,
onde vozes enclausuradas
na récita do gosto amargo
da velhice árdua,
encontra a própria realidade
que o corpo descobre.
Em silencioso lamento,
Apenas chora.
Texto: Eliane Debus / Divulgação SeCArtE
Fonte: Associação Literária Florianópolis (ALIFLOR) / Regata News