Mulher agricultora lança livro de poemas na Feira da UFSC

29/02/2012 16:00

Agricultora, agente comunitária e professora aposentada, Leonilda Antunes Pereira, 59 anos, não casou nem teve filhos. Mas na pequena propriedade que mantém com o irmão em Rio Mansinho, no interior de Fraiburgo, parece ter adotado como parte da família tudo que voa, tudo que zurra, tudo que é verde, tudo que é vida. O amor pelo silêncio do lago de peixes, pela algazarra dos pássaros, pela lida com o velho jumento marchador do nordeste que o avô materno lhe confiou antes de morrer e por toda a bicharada que desfila em suas poesias é tão grande quanto o amor que tem pelas causas sociais e pelos seres humanos. Gralha Azul, nas asas da esperança, que a Editora UFSC lança no dia 7 de março, com a presença da autora, na Feira de Livros de volta às aulas, na Praça da Cidadania da UFSC, a partir das 14 horas, é um livro onde essa mulher do campo registra com densa singeleza, seu encantamento pelo convívio com a natureza e pelas possibilidades do trabalho social voluntário.

Lula, reconhecida pelo seu trabalho voluntário

As duas vertentes dessa poesia narrativa que lembra um cordel do planalto catarinense estão bem sintetizadas pelo símbolo da gralha azul, nome do programa social e ambiental que ela homenageia no livro. Ao mesmo tempo em que pinta o mundo com seu azul exuberante, o pássaro faz sua tarefa social e ecológica, semeando o fruto do pinhão, ajudando a salvar a araucária da extinção e preservando a fonte de renda das famílias pobres do oeste serrano ”.  Como o pássaro semeador, Leonilda é agente comunitária de saúde pelo município de Fraiburgo e membro do Conselho Municipal Antidrogas (Comad) e do Projeto Microbacias.

O lançamento do primeiro livro de Leonilda marca as comemorações do Dia Internacional da Mulher e o reconhecimento do Conselho Editorial da EdUFSC a um tipo de expressão escrita valorizada pelos Estudos Culturais como “Literatura dos Excluídos”, que vai além da obra e do padrão estético aprovado pelas academias. “Nela, o estético está comprometido com o campo político e existencial da autora, que envolve  sua prática social pela preservação da terra e promoção do homem do campo”, assinala o editor, Sérgio Medeiros.

Desde menina, Lula, como é conhecida por toda gente, afeiçoou-se ao hábito da leitura e da escrita, inspirada no avô Antonio Antunes Abrão, que embora sem nenhuma escolaridade, era um grande amante da poesia. Ele costumava reunir ela, irmãos e primos em volta da lareira para contar histórias em forma de versos. “Eu o ou via e admirava… Com o tempo, a escrita passou a ser uma necessidade. Vejo a natureza, veja as coisas acontecerem… Quando surge a vontade de criar eu me levanto de madrugada, seja a hora que for, pra colocar no papel uma inspiração”.

Nascida em Lebon Régis em 1952, Lula conta que dava aulas como professora de escolas seriadas na cidade de Fraiburgo, mas decidida a mudar de vida, migrou para uma área ainda mais rural, onde se tornou agricultora. Foi nesse meio que abraçou trabalhos sociais de apoio e conscientização à famílias carentes sobre condições de saúde, meio ambiente, prevenção de dependência a drogas e alcoolismo. Em 1991, participou junto com outras mulheres da primeira reunião do Gralha Azul, programa de orientação à saúde e à cidadania de famílias sem-terras e foi convidada para integrar o grupo. A reunião dos originais para publicação do livro foi incentivada pelos próprios técnicos da equipe. “Eles é que me fizeram dar valor ao que eu escrevia”, conta.

RITMO DA NATUREZA

A maior parte dos poemas são registros rimados das etapas que vivenciou no programa, onde permaneceu atuando como voluntária durante 21 anos, até o projeto ser extinto. A ele a autora dedica muitos versos: “Gralha Azul é uma ave/Que habitava o nosso chão, Que pela sobrevivência/Sabia plantar pinhão./Hoje pela incoerência/Está quase em extinção,/Porque o belo pinheiro/ Já não existe na região. Agora empresta seu nome/ Nessa grande missão, /Para mostrar ao ser humano/ O que é preservação,/Com isso dizer ao mundo / Que ao amor e humanidade/ Nos faz todos irmãos./

No trabalho voluntário, ela usa a linguagem poética, a contação de histórias e também a montagem teatral para sensibilizar principalmente as crianças do Assentamento Rio Mansinho e da comunidade de Catiras para a necessidade de preservação da terra onde vivem e de se afastarem das drogas e do alcoolismo.  “Se eu não conseguir reverter a situação dos mais velhos, não vou deixar as crianças irem para o  caminho da destruição”.

Os versos misturam personagens humanos e inumanos que atravessam seu cotidiano.  A defesa da igualdade entre todos os seres herdou do pai, José Antunes Pereira, grande amante da natureza e defensor dos animais. “Tenho paixão pela vida animal e acho muito importante para o ser humano essa convivência. Pra mim o bicho tem tanto sentimento quanto a gente, tem compreensão e tudo”. Em sua propriedade, chamada Síto Pai Tejo, em homenagem ao pai, os animais quase falam com ela: “É muito gratificante essa vida”.

Lula, que nunca conheceu o ex-presidente da República, mas já era chamada assim antes de saber da sua existência, termina todos os seus poemas se apresentando, à moda dos trovadores, como em “Estrelinha da manhã”: “Como pode um ser tão pequeno/Conter uma alma tão grande?/Queria escrever coisas bonitas/ Mas meu ser se encabula/ Recebe a flor do meu agradecimento/ E um grande abraço da Lula”. Longos e marcados por um vocabulário simples e rimas cheias, os versos mostram trabalho e fôlego de poeta. Além de uma estética própria, a obra carrega um valor histórico, à medida que cita pessoas, acontecimentos e cenários  implicados nesse trabalho que une arte, cultura e cidadania.

A poesia de Lula tem um ritmo alusivo à vida rural, como em “Canção dos Animais”, em que as estrofes são sempre intercaladas pela marcação do verso “O cravo…”:  “Minha gente com licença/Agora vamos brincar/E uma bela canção/Nós aqui vamos cantar./Aprendemos que o roçado/ Não devemos então queimar./ Como fica a bicharada/Onde é que vão morar./ O cravo… Aprendemos direitinho/Fazer a preservação/Com o povo da capital/E os daqui da região./Bicharada tão contente/Agradece comovida,/Pois é muito importante/ Preservar sua vida./ O cravo…”

Embora sendo seu primeiro livro publicado, Lula participou de alguns concursos literários através de editoras em São Paulo e foi selecionada para antologias. Completou o segundo grau e cursou dois anos de letras português, em Palmas, no Paraná. “O livro é a coroação, a valorização do meu trabalho, de tantos anos de dedicação. É um prêmio que eu jamais me considerava capaz de alcançar, um sonho que parecia irrealizável, pois eu não teria condições financeiras de publicar meu livro”, diz ela, que tem mais uns 70 poemas guardados, prontos para uma nova oportunidade.

 

Texto: Raquel Wandelli

Assessora de Comunicação da SeCArte/UFSC

37218729 e 37218910 e 99110524

Folias, melodramas e arcabouços em lançamento de Pedro e Rodrigo

16/02/2012 17:24

Festa, luto, folia, melodramas. Arcabouços. Da matéria da tragédia e da celebração se faz a arte desses dois grandes poetas, amigos de longa data, Rodrigo de Haro e Pedro Garcia. Juntos, eles lançam às 20 horas do dia 15 de março, no Espaço Coisas de Maria João, em Santo Antônio de Lisboa, suas duas últimas obras poéticas. O multiartista catarinense lança o livro-embalangem Poemas, que contém as obras: “Folias do Ornitorrinco” e “Espelho dos Melodramas”, em uma única edição pela Editora UFSC. Já o poeta carioca Pedro Garcia, que em 2000 teve reeditado seu primeiro livro, Viagem Norte, com serigrafia de Rodrigo de Haro, lança em Florianópolis pela Ibis Libris Arcabouços 2007.

Nessa noite de poesia em dose dupla na também poética Santo Antônio, os dois autores que compartilharam momentos históricos da cultura e da política brasileira dividirão agora o mesmo palco para a leitura de seus versos. O público poderá contemplar a maturidade, as semelhanças e as diferenças entre as duas obras: a de Rodrigo, mais grave, mais narrativa, mais enigmática, com versos que caminham ao ritmo de uma escrita do sagrado; a de Pedro, simples, direta, antibarroca, atravessada pelo humor e pelo imediatismo da fala cotidiana.

Os dois volumes de Rodrigo de Haro costuram a unidade antagônica representada pela imagem dessa espécie meio ovípara, meio mamífera que o autor homenageia no título e no poema “Ornitorrinco”. A figura do ornitorrinco bem representa esse poeta-pintor, filho do artista plástico modernista Martinho de Haro e de Maria Palma, uma dona de casa de notória sensibilidade. “Elaborado, como todos nós, de partes antagônicas para maior triunfo da unidade”, o ornitorrico é, como escreve o poeta, “animal sonhador que fecunda e brota de si mesmo”. Nascido em 1939 em Paris, por peripécias do destino, Rodrigo foi o fruto da lua de mel parisiense dos pais, que aproveitavam uma viagem de estudos recebida como prêmio pelo famoso pintor.

Resgatado às pressas da maternidade quando os nazistas invadiram a França, o recém-nascido fugiu nos braços dos pais da capital mundial da arte e retornou para a instância da São Joaquim no planalto catarinense, a quem dedica com grande afeto suas melhores elaborações surrealistas em conto e poesia.  Sobre essa história, diz ainda o poema: “Celebremos as núpcias do ornitorrinco/ gentil e pertinaz. Brindemos/ a natura folgazã, que – /por incansável amor/ao paradoxo – cheia de/ recursos, concebeu/este jardim de todas as delícias/ com a torre inclinada e/o tarot de Marselha./– Mas sobretudo/criou o ornitorrinco solidário”.

Na dualidade entre o universal e o local, o sagrado e o profano, o clássico e o maldito, o político e o surreal se constrói o universo imagético desse delicado e erudito artista que deixou a escola ainda adolescente para construir sua formação. O paradoxo Rodrigo de Haro tem 14 livros publicados e pelo menos outros seis (de contos, poemas, novelas) manuscritos esperando edição. Sua marca como artista plástico – o único catarinense que consta nos catálogos internacionais como pintor e poeta surrealista – está em vários cantos de Florianópolis, onde se criou entre artistas e intelectuais e se confunde com a própria paisagem da Ilha. A mais notória está nas paredes externas do prédio da Reitoria da UFSC, onde construiu o maior mural em mosaico do país.

Pedro Garcia:

Poeta e educador, doutor em Antropologia Social do Museu Nacional da UFRJ e pesquisador do CNPq, Pedro Garcia leciona na Universidade Católica de Petrópolis. Ao recomendar a leitura de Arcabouços 2007, o psicanalista e crítico cultural Muniz Sodré escreve na apresentação da obra: “Pedro Garcia é alguém que nos convida a entrar no jogo secreto da linguagem, alguém que percebeu que as palavras podem ser mágicas e prazerosamente brincalhonas sem ambiguidade comprazendo-se em dizer em se acentuar na sua pura forma (…). Seu modo é musical e intenso, sim, desde que se entenda sua musicalidade como a do silêncio, este que, diz o aforismo nagô, dá à luz a fala. E a intensidade, no caso de Pedro Garcia, é a dinâmica de sua tensa atenção à articulação silenciosa das palavras”.

Autor de uma extensa e premiada obra, Garcia publicou seu primeiro livro, Viagem Norte, em 1959. Ilha submersa e Paisagem Móvel vieram no mesmo ano de 1973 (Prêmio Poesia UFSC). A respeito de Trapézio & Trapezista, publicado em 1977, o famoso poeta Pedro Nava escreveu: “Sua poesia correta, simples, antibarroca, direta e com a dose indispensável de humor é de criação imediata, no leitor, dum estado congênere ao do autor. Seus livros são destes para guardar entre os preferidos”.

Quase uma década depois publicou Frutos do marSobre a carne do poema e Índice de percurso (Prêmio Luís Delfino), em 1986. A invenção do tempo veio em 1993; ano em que publicou também Escadas improváveis, sobre o qual o prêmio Nobel de Literatura, José Saramago, escreveu: “Obrigado mesmo. Obrigado pelo livro e pelo gozo de tê-lo lido. E não por serem as Escadas Improváveis uma página 39, mas porque todas as páginas são para ler e reler, como Penélope desfazia e tornava a fazer”.

Flechas & Flechas e 34 poemas dois pedros são de 1996; Sobre nomes, de 1998 e 360º (poesia reunida), de 2005, coletânea reeditada em 1997 pelo Consejo Nacional para la Cultura y las Artes, do México. Em 1999, participou do Projeto Fonte de Poesia/Poemas no mar, com o apoio da Unesco, Biblioteca Nacional e Light. Em 2009, organizou a agenda poética Tempo passageiro, da qual fez parte com mais 11 poetas.

 

Serviço:

 

NOITE DE POESIA EM SANTO ANTÔNIO DE LISBOA

Data: 15 de março de 2012

Hora: 20 horas

Local: Coisas de Maria João (Espaço cultural e restaurante)

Santo Antônio de Lisboa

 

RODRIGO DE HARO – EDITORA UFSC

Poemas (caixa-livro)

“Folias do Ornitorrinco”

“Espelho dos Melodramas”

PEDRO GARCIA – EDITORA IBIS LIBRIS

Arcabouços 2007

 

Texto: Raquel Wandelli, Jornalista na SeCArte/UFSC

Fones: 37218729 e 99110524

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FOLIA AÇORIANA: Exposição fotográfica mostra o Carnaval na Ilha Terceira

13/02/2012 16:59

Como os descendentes dos açorianos brincam o Carnaval e como é um “bailinho” para os foliões da Ilha Terceira? São peculiaridades da folia no arquipélago dos colonizadores açorianos que só quem viu pode contar.  É o que faz Joi Cletison Alves, diretor do Núcleo de Estudos Açorianos da Secretaria de Cultura e Arte da UFSC, autor da exposição de fotografias “Festival de Teatro Popular: o carnaval na Ilha Terceira – Açores”, que abre no dia 17 de fevereiro e  permanece até 16 de março na Fundação Municipal de Turismo de Porto Belo. O fotógrafo e historiador viveu intensamente essa experiência nos quatro dias de carnaval de 2006, fotografando as tardes, noites e madrugadas de folia em Angra do Heroísmo e Praia da Victoria, na Ilha Terceira.

Na mostra, Joi Cletison traz o resultado de uma maratona fotográfica chamada “Gestos e Gente no Carnaval Terceirense”, organizada pela Presidência do Governo Regional dos Açores, da qual participou. A proposta da maratona foi fotografar o carnaval da Ilha Terceira nos Açores, que é um evento popular atípico em relação às manifestações populares no resto do arquipélago eem Portugal. Foramconvidados para participar do projeto fotógrafos do Brasil, Canadá e EUA, todos tendo em comum a forte emigração açoriana. Do Brasil, participaram profissionais do Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Santa Catarina, da qual Cletison foi o representante.

 

Durante os quatro dias de carnaval, os selecionados fotografaram os “bailinhos”, que ocorrem somente na Ilha Terceira. Os bailinhos são uma espécie de bloco de carnaval. Cada freguesia (bairro) organiza o seu próprio grupo que compõe uma música (letra e arranjos), monta uma coreografia, cria um figurino próprio e depois ensaia a apresentação do todo. Nas noites de folia, os grupos se apresentam em sua localidade e depois percorrem as diversas comunidades da Ilha.

Um acervo de mais de 900 imagens documenta essa vivência na mostra promovida pela Fundação Municipal de Turismo de Porto Belo em parceria com a Secretaria de Cultura e Arte da UFSC e Governo Regional dos Açores e realização do Núcleo de Estudos Açorianos da UFSC. Joi impressionou-se com a autonomia dos foliões na organização. “Sai um Grupo e entra outro e o público permanece fiel, mantendo os teatros lotados”. Além da criação artística, os grupos cuidam do transporte e recursos financeiros para a montagem. A comunidade oferece apenas o espaço e um lanche depois da apresentação. Cada grupo chega a fazer oito apresentações durante a noite em locais diferentes. “Acontecimentos do dia a dia na área da política, economia ou sociedade servem como tema”, explica o fotógrafo.

 

 

SERVIÇO

 

“Festival de Teatro Popular : O carnaval na Ilha Terceira – Açores”

Local: Fundação Municipal de Turismo de Porto Belo (FUMTUR)

Período: 17/02 a 16/03/2012

Horário de visitação: 8 às 20 horas de segunda feira a sábado

MAIS INFORMAÇÕES: (48)37318605, (48)99828938 ou via Email  joi@nea.ufsc.br  ou Fundação de Turismo Porto Belo (47) 3369.5638 com Alexandre ou alexandre.stodieck@gmail.com

 

 

Fotografias: http://www.nea.ufsc.br/CarnavalAcores_JoiCletison300DPI.zip

 

Promoção da exposição:

Fundação de Turismo de Porto Belo

Prefeitura de Porto Belo

Universidade Federal de Santa Catarina – SECARTE

Governo Regional dos Açores – DRC

Realização: Núcleo de Estudos Açorianos da UFSC

 

Fotografias:

http://www.nea.ufsc.br/CarnavalAcores_JoiCletison300DPI.zip

 

Apresentação:

 

A apresentação da exposição é do escritor Álamo de Oliveira, que já compôs diversas marchas para o carnaval terceirense. O escritor também foi responsável por várias montagens teatrais e diversos bailinhos de carnaval. Abaixo o texto de apresentação da exposição.

 

“Uma das celebrações festivas do Carnaval mais originais ocorre, com certeza, na ilha Terceira dos Açores. Durante dois ou três meses, alguns milhares de pessoas (atores, poetas populares, autores, compositores e músicos, vocalistas, ensaiadores, figurinistas, costureiras) preparam, com talento e afeto, aquele que é o maior Festival de Teatro Popular, se não do mundo, pelo menos da Europa.

 

Durante os dias de carnaval, meias centenas de grupos percorrem as oito dezenas de palcos que envolvem a ilha, representando estórias que tocam o imaginário histórico e social ilhéu, nas mais diversas variantes temáticas, tratando-as, literária e teatralmente, de acordo com a sensibilidade de cada tema. Assim, a hagiografia, os feitos históricos e os dramas passionais entram na categoria das «danças» de dia, da noite e de espada, enquanto que os casos que se expõem ao ridículo público são satirizados através do uso de linguagem cômica e bem humorada, a que dão o nome de «bailinhos». «Danças» e «Bailinhos» utilizam o mesmo figurino estrutural (marcha, saudação, apresentação em quadros e desenvolvimento do enredo, despedida e repetição da marcha) e são escritas em poesia rimada bem à maneira do teatro vicentino.

 

A presente exposição dirá muito da vivência do artista da imagem, que é Joi Cletison, no Carnaval da Terceira, em 2006. Ele testemunha todo o talento, criatividade e – por que não? – a genialidade de milhares de artistas, anônimos no dia-a-dia, mas admiráveis nos quatro dias em que desenvolvem este Festival, que é realizado numa ilha com 55 mil habitantes e visto por mais de 40 mil espectadores”.

 

Álamo Oliveira – Escritor

Raminho – Açores, 5 de Janeiro de 2007

 


Divulgação: 
Raquel Wandelli

raquelwandelli@yahoo.com.br

Jornalista – SeCArte – UFSC

Fones: 37218729, 37218910 e 99110524

 

 

Silveira de Souza e Guido Sassi no Vestibular 2013 da UFSC

10/02/2012 11:54

Dois autores catarinenses constam da relação de livros que vão cair no Concurso Vestibular 2013. Um deles é o livro de contos “Ecos no Porão 2”,

Ecos no Porão, do catarinense Silveira de Souza

do consagrado escritor catarinense Silveira de Souza,  publicado pela Editora UFSC  no ano passado. O outro é Geração do Deserto, romance histórico de Guido Wilmar Sassi, de 1964. Segundo volume da série de livros de contos, Ecos no Porão já está a disposição para leitura on-line no site da Editora UFSC (www.editora.ufsc.br), que também providenciou uma segunda impressão com três mil exemplares. Silveira de Souza irá autografar a obra e conversar com os leitores no seu relançamento na Praça da Cidadania, durante a Feira de Livros da UFSC, que inicia com a volta às aulas, em 5 de março e se estenderá até 4 de abril, quando o volume será vendido com 50% de desconto.

Em Ecos no Porão 2, Florianópolis é o cenário para uma legião de homenzinhos bizarros fazendo cooper com calções esdrúxulos, velhinhos trovadores, desempregados, avozinhas, solteironas, aposentados, enfim, habitantes da vizinhança da Ilha onde pulsa um coração decrépito, murchando para a vida, que pode ser acordado de súbito por um pequeno incidente, a fuga de um canário ou uma rajada de vento. Mas Florianópolis não é mero pretexto para o quase octogenário escritor Silveira de Souza descrever o local onde nasceu e viveu. Mais do que isso, a Ilha é o “mundinho” onde se constituem essas “figurinhas ridículas” e apaixonantes do grotesco que vão ganhar dramaticidade e lirismo no segundo volume da antologia de contos de Silveira.

Esses habitantes ao mesmo tempo ordinários e excêntricos dos porões da ficção de Silveira, que podem estar no café, na Beira-Mar, na Praça XV, no Calçadão ou em quarto de hotel, carregam um traço em comum: todos experimentam o vazio da existência. Mas ao longo das 137 páginas são surpreendidos no automatismo banal do seu dia a dia urbano por sutis acontecimentos que anunciam possibilidades de conhecerem uma dimensão mais sublime da vida. E o que produz esse acesso ao “mundão”? Uma sinfonia de Bethoven, um sonho ou um pesadelo, uma emoção inesperada, uma cena da memória, um abalroamento de carro, enfim, interferências mais ou menos perceptíveis que alteram o estado de coisas e, como em um poema hai kai, sugerem uma revelação.

Considerado o melhor da obra de Silveira, o livro reúne três seleções do próprio autor dos livros Canário de assobio (1985), Relatos escolhidos (1988), Contas de vidro (2002) e ainda cinco contos inéditos, entre eles a narrativa metalinguística “Ecos no porão”, que dá nome à obra e traduz uma metáfora de Silveira para as interferências da leitura dos escritores clássicos que inundam seu imaginário desde os dez anos de idade. Com linguagem habilidosa, uma dose do humor e outra da ironia que lhe são características e ainda um olhar lírico para o grotesco, Silveira parece rir-se baixinho ao final de cada um dos 28 contos, onde reside uma possibilidade de descoberta que nunca se entrega sem esforço do leitor.

Ecos no porão 2 e Geração do Deserto  constam da relação divulgada no dia 7 de fevereiro pela Comissão Permanente do Vestibular, entre oito livros que incluem Amar, verbo intransitivo, de Mário de Andrade; Beijo no Asfalto, de Nelson Rodrigues; Capitães de Areia, de Jorge Amado; Memórias de um sargento de Milícias, de Manoel Antônio de Almeida (também publicado pela Livraria Digital do Núcleo de Pesquisa Informática Linguística e Literatura da UFSC); Memórias Sentimentais de João Miramar, de Oswald de Andrade e Poesia Marginal, de diversos autores. Os livros são selecionados por professores representantes do ensino médio, do Curso de Graduação e Pós-Graduação em Literatura da UFSC e através de pesquisa em escolas. De acordo com a coordenadora pedagógica da Coperve, Maria Luíza Ferraro, o conhecimento dessas obras supõe capacidade de análise e interpretação de textos, assim como o reconhecimento de aspectos próprios aos diferentes gêneros. Além da leitura integral dos textos, a UFSC recomenda que os candidatos compreendam o contexto histórico, social, cultural e estético dessas obras.

Escolhido como marco das comemorações dos cem anos da Guerra do Contestado, Geração do Deserto inspirou em 1970 o filme Guerra dos pelados, de Sylvio Back. Reeditado três vezes pela Movimento, de Porto Alegre, o livro oferece uma importante reconstituição histórica e literária da vida, da cultura da época e dos personagens dessa guerra que envolveu camponeses, peões, jagunços e coronéis nas disputas territoriais dos estados de Santa Catarina e Paraná.

 

SERVIÇO

Ecos no Porão 2

Autor:  Silveira de Souza

Editora UFSC

Preço do catálogo: R$ 29,00

e a R$ 15,00 na Feira de Livros da UFSC

 

Textos: Raquel Wandelli

raquelwandelli@yahoo.com.br

Jornalista – SeCArte – UFSC

Fones: 37218729, 37218910 e 99110524

“Ao que minha vida veio” galopa para os cenários da história

03/02/2012 10:31


“E foi assim que, sem mais escorregar nada não e com bem menos de dificuldade, ele apegou-se um só instantinho àquele e último galho, antes de se despenhar de lá de cima e chegar no ao-chão a bordo de um baque seco cheio de ecos. Que tapa dado em cara de filho e queda de suicida nunca param de ecoar.”

               (trecho de Ao que minha vida veio, de  Alckmar Luiz dos Santos)

 

Tapa dado em cara de filho e queda de suicida nunca se desesquece, sobretudo quando assistidos por um futuro escritor. Ficam mesmo “atroando ainda depois de terem silenciado as carpideiras todas, e desaparecido tudo quanto é soluço fingido e não”, como diz a abertura do romance de Alckmar Luiz dos Santos. Vencedor do Concurso Romance Salim Miguel, promovido pela Editora UFSC no ano passado, Alckmar faz a cena de um adolescente de 17 anos caindo de um prédio de 12 andares que guardou na memória por muitos anos derivar e entrelaçar-se à aparição do cometa de Halley em 1954. O romance dá partida nos anos 30 e se desdobra em quatro décadas de alucinante narrativa, desfilando uma rede de paisagens e de personagens históricos e fictícios na saga do tropeiro Juca Capucho.

Depois do lançamento em Florianópolis e na capital paulista, obra e autor estão sendo recebidos em festa em Silveiras, no interior de São Paulo, terra natal do escritor e cenário dessa narrativa que entremeia lembranças de juventude no universo campeiro e história do Brasil em tempos de guerra e de esquadria da fumaça. O lançamento ocorrerá às 19h30min, na Terra dos Encantos. Radicado há 20 anos em Santa Catarina, onde é professor de Letras e Literatura da UFSC e coordena há 17 anos o Núcleo de Pesquisa em Informática Linguística e Literatura, maior banco digital de literatura do Brasil, o escritor carrega na sua criação o traço dos lugares geográficos e literários onde viveu.

Na reinvenção de uma sintaxe tropeira, na largueza e riqueza de vocabulário que lança o dicionário regionalista em uma linguagem e uma reflexão universalizante, salta aos olhos a influência da prosa de Guimarães Rosa, cuja obra Alckmar estudou no mestrado. A gramática ao mesmo tempo erudita e popular, o modo selvagem de enrilhar as frases e puxar os diálogos, trazendo para o registro escrito o ritmo e a musicalidade da fala tropeira, torna a leitura desafiante, mas sem freios. A estranheza de vocabulário não param a leitura, trôpega como um terreno montanhoso, mas veloz como um cavalo xucro.  Não é do tipo de romance que começa devagarzinho, para ir fisgando o leitor aos poucos. Ao que minha vida veio começa com o cavalo encilhado e dispara até o fim, antes que o leitor pense em saltar, montado na garupa de um narrador que busca descobrir na história de sua região suas próprias origens: o nome do pai e da mãe que lhe são escondidos.

Na busca de repostas para sua história pessoal, há o esforço de reconstrução de fatos da história do Brasil. “Por exemplo, há uma passagem do cometa Halley, contada pelo meu avô, que ficou muito espantado ao ver voar aquela bolona com rabo no céu.” Esse evento individual se emaranha a casos importantes para a região, como a revolução de 1932, quanto Silveiras foi bombardeada por aviões cariocas das forças federais,  chamados de vermelhinhos pelos habitantes. “É historia que ouço ainda hoje de minha mãe. Ninguém conhecia avião, mas todos sabiam que dele se jogavam bombas”. A história adentra a Segunda Guerra Mundial, quando o personagem desiludido, vai, como voluntário da FEB, lutar na Itália e se entremeia com memórias da infância do autor sobre pessoas que perderam amigos na guerra ou de jovens que regressaram loucos.  O romance passa pelo  suicídio de Getúlio, em 54, e segue sempre cruzando a história miúda com a história grande, uma forma, segundo o responsável por essa obra de alquimia, de dizer que uma é tão importante quanto a outra.

Sobre o autor
Alckmar Santos é professor de Literatura Brasileira na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), onde coordena o Núcleo de Pesquisas em Informática, Literatura e Linguística (NUPILL). Foi pesquisador convidado na Université Paris 3 – Sorbonne Nouvelle (2000-2001) e na Universidad Complutense de Madrid (2009-2010). É também poeta, romancista e ensaísta. Autor dos livros Leituras de nós: ciberespaço e literaturaDos desconcertos da vida filosoficamente considerada (ensaio e poemas, respectivamente Prêmio Transmídia – Instituto Itaú Cultural), Rios imprestáveis (poemas, Prêmio Redescoberta da Literatura Brasileira da revista Cult).

Sobre o livro
Romance  – Ao que minha vida veio…

Autor: Alckmar Santos

Editora UFSC

Páginas: 202

Preço: R$ 29,00
Lançamento
Data: dia 3 de fevereiro de 2011.

Hora: 19h30min
Local: Terra dos Encantos, em Silveiras (São Paulo)

Contatos do autor:

E-mail: alckmar@cce.ufsc.br

Textos: Raquel Wandelli

Jornalista – SeCArte – UFSC

Fones: 37218729 e 37218910 e 99110524

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