Setembro estreia no final de semana levando ao palco o gosto da guerra

28/06/2011 11:27

Com estreia nos dias 2 e 3 de julho, espetáculo propõe reflexão artística sobre a biopolítica contra o terror

Quando a vida no Planeta é impactada por acontecimentos da repercussão dos que envolveram a guerra entre o mundo islâmico e os Estados Unidos o palco da arte não pode ser outro se não o da própria história. Dos jornais para os bancos universitários, da literatura para o cinema, a reflexão sobre o 11 de Setembro será levada agora ao teatro pelo Curso de Artes Cênicas da Universidade Federal de Santa Catarina. Setembro estreia nos dias 2 e 3 de julho, às 20 horas, no Teatro da UFSC, dentro do Projeto Primeiro Ato, da Secretaria de Cultura e Arte, com a proposta de criar um espaço poético e sensível para atores e públicos encenarem as causas e conseqüências do evento biopolítico mais marcante do terceiro milênio.

Fruto de quatro meses de pesquisa e trabalho de alunos de sétima fase da disciplina Projeto de Montagem, a peça se propõe a discutir a experiência humana a partir dos eventos eclodidos em 11 de setembro de 2001, que neste ano completam uma década. O projeto partiu da ideia de constituir um fórum artístico e intelectual para a discussão desses episódios que deixaram marcas visíveis na vida cotidiana, alterando tanto as relações geopolíticas quanto as relações interpessoais no mundo, como explica o coordenador do Curso de Artes Cênicas, Fábio Salvatti.

Orientada e dirigida por Salvatti (direção geral) e pelos professores Gerson Praxedes (co-direção) e Luiz Fernando Pereira (direção de arte), uma equipe integrada por 21 alunos iniciou os ensaios no dia 14 de março. O espetáculo encena um olhar sobre a experiência humana nestes dez anos que nos separam dos eventos do dia 11, a partir da percepção de que os atentados do dia 11 de Setembro inauguraram um novo sistema geopolítico no século XXI. A Guerra contra o Terror que se seguiu a partir daí tem pautado as relações interpessoais, internacionais e interculturais dos indivíduos e nações, analisa o diretor. “A discussão que propomos não pretende ser dogmática ou fundamentada em uma tese a ser defendida, mas, antes, oferecer um campo sensível de reflexões atravessado por memórias individuais e políticas”, sublinha Salvatti.

Para alcançar esse espaço de dramaturgia em processo, Setembro não parte de um texto preexistente à cena. Busca construir uma enunciação dramática do tempo presente, valendo-se de recursos inovadores, como provocar respostas no elenco a partir de estímulos dados pela direção da peça. Alguns desses estímulos são conceitos ou partes de ensaios de pensadores como Eric Hobsbawm, Noam Chomsky, Susan Faludi, John Gray, Sam Harris, Giorgio Agamben, Antonio Negri. Outros são recortes de jornais, fragmentos de discursos de autoridades, documentos oficiais, etc. Além dos fragmentos textuais, a peça explora obras audiovisuais alusivas ao acontecimento, como os documentários Farenheit 911, Zeitgeist, Loose Change, e também várias referências musicais como Eumir Deodato, Nick Drake, Zbigniew Preisner, dentre outras.

As conseqüências desse acontecimento são visíveis na normalização dos instrumentos de vigilância da sociedade de controle, na suspensão dos direitos civis levadas a cabo no Ato Patriótico nos Estados Unidos, ou mesmo na invasão militar e execução sumária de acusados de terrorismo em inúmeros países. Um verdadeiro estado de exceção transnacional estabeleceu-se, no qual se ignoram as soberanias nacionais ou as convenções humanitárias. “Campanhas de delação afixadas em cartazes nos principais centros urbanos dos países desenvolvidos, flagrantes abusos contra os direitos humanos, intolerância religiosa, disseminação da xenofobia: o mundo deste novo milênio está, decididamente, marcado pelas cicatrizes de um conflito biopolítico”, diz o argumento da peça.

Uma das primeiras grandes produções do Curso de Artes Cênicas, criado em 2008, o espetáculo integra-se aos propósitos da disciplina, que visa à concretização de um projeto artístico de engajamento coletivo. Com a primeira turma se formando em 2011, o curso proporciona, com esse projeto, a oportunidade de os alunos aplicarem as aptidões desenvolvidas ao longo do curso nas diferentes funções teatrais. como anota a secretária de Cultura e Arte da UFSC, Maria de Lourdes Borges.

Aberta ao público, a peça foi produzida pela Expresso Produções, com recursos da SeCArte e apoio do Departamento Artístico Cultural, Departamento de Libras e Centro de Comunicação e Expressão. Os ingressos, gratuitos, devem ser retirados no Teatro da UFSC, ao lado da Igrejinha, uma hora antes do espetáculo.

serviço:

Setembro

Direção: Fabio Salvatti (37216801)

Codireção: Gerson Praxedes

Direção de arte: Luiz Fernando Pereira (LF)

elenco: Araeliz, Bárbara Danielli, Betinho Chaves, Carlos Silva, Célio Alves, Claudinei Sevignani, Elise Schmiegelow, Emanuelle Antoniollo, Gabriel Guedert, Gustavo Bieberbach, Ilze Körting, Janine Fritzen, Malu Leite, Paula Dias, Rafaela Samartino, Ricardo Goulart, Rodrigo Carrazoni, Tainá Orsi, Tamara Hass, Thaís Penteado, Vera Lúcia de Azevedo Ferreira, Wellington Bauer

iluminação: Gabriel Guedert

cenário e figurino: Malu Leite

cenotécnico: Edson

costureira: Iraci

vídeos: Fabiane de Souza

fotografia: Larissa Nowak

pesquisa de trilha sonora: Fabio Salvatti

programação visual: Fabio Salvatti e Wellington Bauer

Apresentações: 2 e 3 de julho (sábado e domingo)

Horário: 20 horas

Local: Teatro da UFSC (ao lado da Igrejinha)

Entrada franca – retirar ingresso uma hora antes do espetáculo

Realização: alunos da 7ª fase do curso de Artes Cênicas da UFSC

Patrocínio: SeCArte/UFSC (Secretaria de Cultura e Artes da UFSC)

Apoio: CCE – DALi – DAC/UFSC

Produção: Expresso Produções

Raquel Wandelli

Jornalista da SeCArte/UFSC

99110524 e 37219459

www.secarte.ufsc.br