Mulheres fazem cortejo no Largo da Catedral em protesto contra violência

04/08/2011 09:57

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Cortejo da tristeza realizado em novembro de 2010

Mulheres marchando pelo centro da cidade sob o estampido seco dos tambores, de cabeças baixas, mudas, carregando andores de imagens de vítimas da violência de gênero.  Com esse cortejo silencioso e triste, que simula o comportamento acuado comum às mulheres que sofrem agressão, um grupo de 30 estudantes da UFSC e Udesc, professores, militantes, donas de casas e profissionais de todas as áreas quer chamar a atenção para o principal problema de saúde do mundo: a violência sexual. Lideradas pela aluna do Curso de Artes Cênicas da UFSC, Ilze Eliane Körting, elas realizam às 17h15min de sexta-feira (5), na semana que marca cinco anos da promulgação da Lei Maria da Penha, no Largo da Catedral, em Florianópolis, a terceira performance do Projeto “5760 Diante dos olhos de Deus”, que tem como principal bandeira de luta a reivindicação de uma casa de abrigo mulheres agredidas ou ameaçadas.

O número 5760 faz alusão à quantidade de mulheres que sofrem violência em um dia no Brasil. E também corresponde à quantidade de imagens femininas que as manifestantes vão empunhar durante seu silencioso protesto ao rufar dos tambores do grupo de Taikô Shimadaiko. O Taikô faz música de celebração japonesa para que mensagens possam ser ouvidas e para evocar coragem. Durante todo o mês de férias, elas se reuniram em uma sala da UFSC, onde montaram um QG para confeccionar o gigantesco varal de rostos machucados com o qual buscam dar visibilidade às vítimas.  São 480 varais que perfazem o comprimento de mais de dois quilômetros. As faces foram reproduzidas uma a uma em moldes de raios-X sob tecido e pintadas em aquarela.

A performance mostra a conta que ninguém faz da violência diária contra a mulher (veja box), que normalmente é doméstica mas se estende para a escola, trabalho, espaços públicos. “Queremos que a sociedade faça reflexão a respeito e que as pessoas percebam a urgência de uma casa-abrigo em Florianópolis, assim como em outros municípios em Santa Catarina”. Pela lei, cada cidade com 50 mil habitantes deveria ter ao menos um lugar para proteção dessas mulheres.

Durante a semana, as manifestantes vão entregar panfletos que falam a respeito da questão, além de informar a população como acessar a AL e a Câmara de Vereadores para cobrar a criação da casa-abrigo na capital. Ilze explica que o grupo fará um cortejo no centro da cidade, em total silêncio, de olhos baixos, sem contato visual, pois é assim a postura das mulheres que acabam de ser agredidas. “Além de vergonha, se sentem culpadas, porque a sociedade sempre responsabiliza as mulheres por tudo”. Uma delas estará de burka, lembrando que a brasileira usa uma burka simbólica, “que já está dentro dela”.

Formada em Ciências Sociais pela UFSC e estudante de sétima fase de Cênicas, Ilze Eliane Körting, ela própria uma ex-vítima de agressão, criou o Projeto 5760 em novembro do ano passado, quando realizou a primeira performance, repetida no Dia Internacional da Mulher, em março passado. A iniciativa integra o Grupo de Pesquisa em Artes Cênicas e Tecnologia da UFSC (PACT), coordenado pelo professor Rodrigo Garcez, com apoio da Secretaria de Cultura e Arte da UFSC e Associação Nipo Catarinense e pode ser acompanhada pelo blog: www.projeto5760.blogspot.com. Em dezembro, o cortejo deverá ser levado a Brasília.

UM ABRIGO CONTRA OS NÚMEROS DA VIOLÊNCIA

Em 10 anos, 41532 mulheres foram assassinadas no Brasil. O Censo da Previdência Social mostrou que entre mulheres de 16 a 44 anos a principal causa de LER e de lesões irreversíveis e graves com deformação física ou mental é a violência doméstica.  Em 24 horas, 3.600 mulheres são agredidas, resultando em 10 a 12 óbitos em média e a cada dois minutos cinco sofrem agressões físicas. A cada 15 segundos uma mulher sofrer uma agressão e 230 em uma hora. No final do dia são 5760. Morrem por dia 10 a 12 mulheres no Brasil por essa causa. Não entram nas estatísticas as mulheres que desaparecem nem as que se matam.

Em SC, 58 mulheres foram assassinadas em 2010 e para garantir a segurança só existem quatro casas de abrigo em 293 municípios do Estado em Joinville, Blumenau, Camboriú e São José. No ano passado, o 6º. DP registrou 5760 agressões e 5760 B.O. em Florianópolis. O Centro Integrado de Atenção e Prevenção à Violência contra a Pessoa Idosa revelou que 772 idosas se encontravam em situação de violência no ano passado, só em Florianópolis, Mesmo com uma incidência altíssima de situação de risco para mulheres dentro do lar, a Capital não tem um abrigo.

Divulgação: Raquel Wandelli: 99110524 e 37219459

(Para solicitar fotos em boa resolução dos preparativos para a performance)

raquelwandelli@yahoo.com.br

www.secarte.ufsc.br, www.agecom.ufsc.br

Ilze Körting: 84723850